Le Entrevista a Twin Shadow por Luísa Rosa Baptista


"Pronto, têm 20 minutos! Quando estiver quase a acabar eu depois venho aqui avisar que é para fazerem as últimas perguntas, está bem?” E com as indicações da responsável portuguesa do Pepe Jeans Singular Festival começou a entrevista a Twin Shadow, meio-dia solarento, Chiado, Lisboa, 1 de Setembro de 2011.

Data extra no Clube Ferroviário, numa tournée já longa e que não tem prazo para acabar, uma vez que “o objectivo é cobrir o máximo da Terra possível”. Este concerto fez a cidade andar num reboliço à conta dos bilhetes. Os portugueses parecem adorá-lo, tocou 4 vezes este ano no nosso país. Nós chegamos pertinho para tentar saber o que este rapaz (George Lewis Jr.), nascido na República Dominicana e crescido na Flórida, tem de tão especial para andar a tocar nos melhores festivais do mundo. Numa conversa que acabou por ser tudo menos formal, revelam-se pequenos detalhes da vida do homem por detrás do músico.

A banda que o acompanha (Andy Bauer – baterista; Wynne Bennett – teclista e Russell Manning – baixista) estava presente e deu-nos algumas dicas. Mais cool que isto era fazer as malas e entrar com eles no próximo avião. Vontade não faltou.


Bem, gostaria de saber o que têm estado a ouvir actualmente, com mais frequência?

GLJ - Eu não estou a ouvir nada neste momento! Não consigo responder a essa questão... talvez o resto da banda possa. Não tenho ouvido muita música nos últimos meses.
RM - Tenho ouvido o novo dos Girls e música italiana dos anos 70.
AB - O mesmo que o George.
WB - Nem sei bem... algumas faixas de música de dança dos anos 90.

Se pudesses escolher um artista para fazer uma colaboração, vivo ou morto, quem seria?

GLJ - Bob Dylan

O que é um dia feliz para ti?

GLJ - Hoje. O sol está cá fora e nós não temos muito disso. Sempre que há sol é um dia feliz para nós.

E uma noite agradável?

GLJ - (risos) Cada um com o seu próprio quarto de hotel. (risos)

Ainda usas o toque de telemóvel a imitar o motor de uma mota?

GLJ - Ahhh, o meu toque da mota! (risos) Não, já mudei. Muita gente olhava-me com uma cara estranha.

E o que tens agora?

GLJ - Ahh eu tenho... Michael (manager) podes ligar-me? Liga-me num instante. Vais ouvir já, é muito fixe. Michael – Aí vai.
GLJ - Está a tocar ou o meu telefone morreu? Humm, não sei...

Mini-concerto directo do iPhone de George Lewis Jr. : http://www.youtube.com/watch?v=vIlep3QFxJU
(George Lewis Jr acompanha música com coros em falsete e dança um pouco - risada geral)

GLJ - Isto é de uma banda chamada Aventura, e a música é uma bachata. Eles são GRANDES! É como estar em casa. Todos nós já vivemos na República Dominicana em bairros porto-riquenhos.

As tuas canções são maioritariamente relacionadas com o passado. Como se ligam às tuas questões presentes?

GLJ - Acho que todas as canções têm algo a ver com o meu passado mas eu tento escrever no presente e torná-las relevantes para a minha mente no momento que as escrevo. Elas acabam por viver em ambos mundos: passado e presente.

Mas quais são os teus paradigmas actuais?

GLJ - Os meus paradigmas actuais?! (risos). Acordar Às 03h30 da manhã, apanhar dois aviões, e começar de novo no dia seguinte... Sabes, eu acho que os problemas na vida mudam mas as questões importantes são universais. Muitos de nós temos de lidar com a solidão porque...temos quem gostamos longe, que fazem coisas que não podemos ver/acompanhar o tempo todo e todos nós sentimos a falta de alguém. Por isso penso que os temas universais estão sempre lá, sempre presentes.

O que pensas da cidade de Lisboa, tiveste oportunidade de passear, de a sentir ?

GLJ - Nós realmente tivemos algum tempo para andar por aí. Da última vez que cá estivemos, em Maio, houve essa oportunidade, andamos a passear com uma garrafa de Porto, fomos à praia, subimos e descemos colinas loucas, divertimo-nos. Isto é muito calmo, saímos à noite e a vida nocturna é muito descontraída. Era fim-de-semana e estivemos perto de um largo na zona dos bares, perto daqui (Chiado), era muito casual mas...foi uma boa noite. Estavamos a procurar algo mais agitado, não conseguimos encontrar mas isso é porque não vos conhecíamos!

Por curiosidade, a tua irmã gémea vive em Berlim?

GLJ - Sim, e nós estivemos agora um mês a viver lá, durante a tournée europeia. Mas há cerca de três anos, antes de tudo isto começar, também já lá tinha vivido, durante uns tempos. Mas Berlim não me parece muito europeu... é uma cidade interessante, moderna, com novas estruturas e ruas largas. Faz-me lembrar um pouco a América, novo, fresco, muito industrial, e um pouco da Europa, mas quando penso em Europa, penso nas pequenas ruas na Dinamarca e Lisboa sim, umas das cidades mais europeias em que estive.

Se escolhesses uma música para acordares cedo pela manhã, qual seria?

GLJ - (risos) Michael, toca a música matinal! Esta é a música com que acordamos todas as manhãs. Há um ritual, dança-se. Não é que queiramos acordar ao som disto, mas TEMOS de o fazer. Acabamos por gostar dela. Espera um segundo. (aqui começa a tocar, a partir do Mac do manager, uma música instrumental não identificada, ao estilo épico “reunir as tropas” com um trompete protagonista e que acaba estranhamente com um relinchar de cavalaria).

E uma boa banda sonora para fazer amor?

GLJ - Há algumas boas, hum... acho o disco de James Blake bastante apropriado.

Um pouco lento por vezes, não?

GLJ - (risos) Uhuuu, Nine Inch Nails para ti então!
AB- Ahh, eu sou mau com nomes, hummm...
GLJ - … Ele tem uma lista de reprodução.
AB - Sim, eu tenho uma lista.
WB - Os XX são fixes.
RM - Eu gosto de Roy Ayers.
GLJ - woowww (risos).

Sobre este festival Singular da Pepe Jeans, é um pouco diferente dos outros festivais a que estão habituados. Podem dizer-me como se integraram na participação, uma vez que nem fazia parte da vossa agenda europeia?

GLJ - Sim, eles contactaram-nos, não estava previsto. De facto nós tecnicamente não o poderíamos fazer, só o conseguimos por ser um evento privado, porque quando se toca em festivais há uma série de leis sobre o quanto podes tocar, tempo, etc. Assim aceitámos o convite, existiram alguns problemas que os managers resolveram entre eles e viemos. Nós adoramos Lisboa, é verdadeiramente um dos meus locais preferidos.

E para o concerto no Clube Ferroviário, privado. Vão fazer alguma coisa diferente?

GLJ - Vamos tentar umas músicas novas. O que é um pouco assustador (risos).

Foi uma confusão na cidade, muita gente queria ir mas não conseguia bilhetes...

GLJ -Humm, é uma pena, ainda há muita tournée pela frente, vamos ainda à Austrália em breve e estamos a tentar cobrir o máximo possível da Terra...estamos muito cansados também. É uma pena não podermos vir mais vezes às cidades europeias. Fazer tournée também é uma coisa muito cara, então...

Sobre Brooklyn, onde vivem, é preciso ser-se “estranho”? É essa condição de estranheza que uma banda precisa ter para se destacar?

GLJ - Não me parece que isso seja verdade. Algumas bandas vão embora de Nova Iorque para produzir o álbum e depois voltam. Pode ser mais fácil, se fores talentoso, ser descoberto fora de Nova Iorque e há quem faça isso.

Sim, mas aí há uma estratégia...

GLJ - Sim, é uma estratégia. Há bandas que ligam muito a estratégia e outras não querem saber. Mas a estratégia é inevitavelmente uma parte do teu “negócio”, fazer dinheiro, fazer isto, aquilo... tem de haver uma estratégia. Quando fiz o meu disco não havia isso, mas uma vez lançado há certamente uma estratégia empregue. Mas é difícil destacares-te em Nova Iorque e é natural que acabes por te tornar “estranho”. Mas se não o fizeres honestamente, também não te vão ligar nenhuma. As pessoas vão topar e na verdade, Nova Iorque já viu tudo. Daí, se vires algo que é falso...topa-se isso imediatamente.

Estou muito curiosa com esta tournée Haircut (link:http://pitchfork.com/news/42870-twin-shadow-announce-haircut-tour) que vão fazer a seguir nos EUA. O que levou a este conceito de um corte de cabelo diferente para cada cidade, o que está por detrás da ideia?

GLJ - Nós quisemos desenvolver um trabalho artístico que personalizasse cada cidade, porque é isso que é um espectáculo ao vivo. Muitas pessoas pensam que uma tournée é a mesma coisa todas as noites, e podem realmente ser sempre as mesmas canções mas cada cidade é muito especial para nós e depois de correr os EUA um par de vezes, podemos realmente saber o que esperar de cada público e o que esperam de nós.

E então, vais mesmo fazer um corte de cabelo diferente para cada cidade?

GLJ - Isso, eu não tenho a certeza. Vai ser muito difícil.

Porque eu acho que o público vai esperar que algo do género aconteça...

GLJ - Eles vão esperar, isso vai-me perseguir e vou gastar muito dinheiro para ter o cabelo preparado em exclusivo, mas...vamos ver o que acontece. Não sei...não tenho a certeza. Não era bem só isso que se trata mas é provável que eu cumpra o desafio.

A minha última questão é para os restantes elementos da banda...George, não podes responder a esta. Como é estar todos os dias com este rapaz? Ainda têm paciência para ele?

(risos)
GLJ - Ela pensa que eu sou um mau ser humano! (risos)

Não penso nada disso... (risos)

AB - Eu já precisei de paciência para muitas pessoas, mas para ele não preciso.

Ele tem mau génio de manhã?

AB - Não. Eu tenho mau génio de manhã! (risos)
WB - Não tem nada! Não... é fácil, é muito fixe.
RM - Ele é como o meu braço direito quando saímos à noite ou quando vamos explorar qualquer coisa.

Obrigada e até logo.

George Lewis Júnior - Obrigado, até logo à noite!

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Entrevista: Luísa Rosa Baptista
Fotografias: Linha Encarnada (Nelson Rodrigues)

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