Le Entrevista ao elenco d'A Fuga por Pedro Alfacinha


Pedro Alfacinha da Le Cool Lisboa encontrou-se com o elenco da peça "A Fuga" que está ainda em cena no Teatro Tivoli por Lisboa. Bem humorado o grupo, foram respondendo sem ziguezagues ao ziguezagueio do Pedro pela produção. E sem fugas.

PA - Pedro Alfacinha
MR - Maria Rueff
JPG - José Pedro Gomes

PA - Falem-nos um pouco do que trata a peça.
MR – A ideia é justamente não se perceber. Não se pode dar o trunfo, é uma comédia de enganos, de surpresas e portanto como em todas as comédias não se pode dar logo a chave porque desvia a atenção do espectador, digamos assim. A graça disto é que é justamente parece que é mas não é, no fundo a comédia é assim.


PA - Já sabemos que és uma cambalacheira e que é tudo mentira…
MR - Eu? Não sou nada, não digas isso, sou uma mulher impecável.
JPG - São boatos mais uma vez
MR - São boatos, são boatos. Tenho um coração de ouro, não tenho?
JPG - Só que foi roubado.

PA - A tua personagem é muito diferente das outras que tens feito tais como a Maria Delfina?
MR- A única coisa que têm em comum é que é uma linguagem cómica, pretende ser um estilo diferente dum boneco televisivo mas não deixa de ser comédia.

PA - A Maria Delfina era um trabalho que fazias só com a Ana Bola, aqui encontras mais actores.
MR - Parece que eu só tenho trabalhado com a Ana Bola. Eu tenho estado com mais actores, na vida, na profissão e na arte. Uma das coisas muito boas é reencontrar o José Pedro, curiosamente aqui no Tivoli onde nós fizemos há nove anos o Inox com o António Feio.
JPG - Nós só nos encontramos no Tivoli.
MR - Só, aliás, marcámos. Então até daqui a nove anos e tal no Tivoli. Isso é muito bom e para mim é também a oportunidade de trabalhar com o Fernando Gomes que admiro imenso o seu trabalho como actor e como encenador.

PA - Junta-se o útil ao agradável ao reencontrar amigos.
MR - Exacto. O Mourato eu já conhecia, é um actor, um comediante extraordinário e a Sónia e o João também portanto tem sido muito bom.
JPG - Mas isto não tem a ver com um jornalista, acessoriamente há um jornalista no meio disto porque foi um jornalista que se meteu com a minha mulher.
MR - (ri-se)

PA - Mas ele não aparece, não é uma personagem.
JPG - Ele não aparece.
MR- Se calhar está aí hoje.
JPG – Oxalá fosse morto.

PA - Porque pôs a nu os cambalachos…
JPG - Não é cambalachos, quando é um ministro não é cambalachos.

PA - Então o que é que ele fez?
JPG - É como roubar e…
MR - Subtrair.
JPG -Há outro termo.
MR - Agora?
JPG - Sempre houve

PA - Furtar? Desviar?
JPG- Mas ainda há um outro.
MR- Só o povo é que rouba, as classes políticas desviam ou enfim… apropriam-se.
JPG- É isso.

PA – Acerca do trabalho com o Fernando Gomes, o José Pedro já tinha feito um espectáculo anterior.
JPG - Já sou repetente sim

PA - Mas tu ainda não tinhas trabalhado com ele.
MR - Ainda no conservatório tinha trabalhado com ele numa peça até não poder estrear, porque marcaram o meu exame final do Conservatório no dia da peça com o Fernando e tive que ser substituída e muito bem pela Maria Vieira, que já era uma grande senhora e eu era uma maçarica.

PA – Falando deste trabalho como é o Fernando como encenador?
JPG - É muito despachado, simplifica muito as coisas. Simplifica, quer dizer, é muito eficaz porque já tem muitos anos disto.
MR - É pragmático, é muito lúcido.
JPG - O que deixa a nós a dificuldade de fazer bem o que ele imaginou.

PA - Amizade e trabalho é uma chave para o sucesso?
MR - Para mim tem sido.
JPG - Vamos ver.
MR- Mas já não estamos amigos?
JPG - (ri-se) Vamos ver se é sucesso ou não.
MR - Estamos a brincar. Na minha vida tem sido, na do José Pedro acho que também. A comédia é a arte do ridículo, é a arte onde nós mais nos expomos.

PA - E quanto mais se conhecem…
JPG - Melhor
MR - Temos que ter o à vontade que as crianças têm quando fazem disparates em família e tem a ver com isso, uma profunda intimidade, isto é, conhecermo-nos muito bem para podermos jogar bem uns com os outros.

PA - Tem sido fácil conciliar os ensaios com o “Estado de Graça”?
MR - Gosto muito do que faço, é um privilégio, claro que é cansativo.

PA - E o corpo não se ressente?
MR - Sim. Mas depois fico dois dias a dormir para recuperar.

PA - E o José Pedro está com algum trabalho na televisão, esteve na Família Mata.
JPG - Não, agora só mesmo nisto.
MR - É sempre preferível dedicarmo-nos a uma só coisa. Somos todos precários e indignados por isso é melhor aproveitarmos as oportunidades que a vida dá.

PA - É melhor fazer humor em TV ou em palco?
MR - Abstraio-me que estou a ser filmada, para mim estou a fazer da mesma maneira que estou a fazer em palco. Eu gosto de fazer, independentemente de ser TV, teatro, cinema. Não tenho aquela coisa “ai o teatro”, eu não tenho isso.
JPG - Eu gosto mais de teatro, temos mais tempo para preparar as coisas.
MR - Mas eu sou muito acelerada por isso aquela coisa para ontem agrada-me.

PA - É mais pela questão do feedback.
MR - Sim, é isso.

PA - Qual o convite que gostavam de fazer ao público?
MR - Querem jantar comigo? (ri-se) O melhor remédio nesta altura da crise é tentar rir com estas desgraças. No país da pobreza vai sobrando o samba.
JPG- Isto é uma peça espanhola mas a realidade deles não é assim tão distante da nossa. Venham passar uns bons momentos e divertirem-se.

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