Le Entrevista aos Duo Porcelana por Rafa


Apresentem-se e digam-me o porquê de Duo Porcelana.


(Nuno Afonso) O Duo Porcelana sou eu e o Guilherme. Somos ambos Djs, tocamos há alguns anos, e recentemente começámos a tocar juntos. Quisemos dar um nome ao projecto, e sempre que se procura um, a coisa demora tempo, é quase como estudar fenomenologia. Ainda tocámos uns dois ou três gigs sem nome, e um dia, por brincadeira, enquanto trocávamos uns emails, chamei ao projecto de Duo Porcelana. Assentou tão bem que o Guilherme no dia seguinte mandou imprimir umas t-shirts e uns chapéus com o nome. (risos)


Porcelana, pelas linhas sublimes que seguram uma peça. São tão leves e delicadas que a qualquer momento parece que se vão quebrar, ao mesmo tempo que se insinuam ao voo. É à força do rigor e resistência do material que cada ponto é suportado, que o equilíbrio é mantido. Mas, Porcelana também, pela falta do rigor que se encontra em cerâmicas menores, nos pastiches chineses ou nas faianças Bordalo Pinheiro, por exemplo. Na falta da flexibilidade e da ousadia das linhas, é na inventividade e na extravagância das formas que está a beleza.

Que mais fazem além do colectivo Dj.

(Nuno) O Guilherme é um designer gráfico reformado e ex-colaborador de um atelier de arte contemporânea. De momento satisfeito e decidido em alcançar o saber enciclopédico, a mostrar a cidade aos viajantes que por aqui passam. Eu faço o que posso e o que me deixam, desde que não comprometa o meu tempo livre, e a integridade. Às vezes quando percebem que trabalhamos com prazer, pagam menos ou começam a pedir mais pelo mesmo valor. É perverso.

Porquê Lisboa, como vos surgiu no caminho a cidade.

(Guilherme) Vindo cada um da sua cidade natal, Campinas e Tavira, encontrámo-nos por acaso em Lisboa, de passagem, com a ideia de ir viver para outro lugar. Porém, as viagens têm sido adiadas, e inquietos, decidimos continuar por cá, a inquietar os outros.

Sugiram-me um set para ouvir por Lisboa.

(Guilherme) Jazz sessentista da Blue Note, Cadet ou Atlantic, como Ramsey Lewis, Jimmy Smith e Sun Ra.

(Nuno) Bandas sonoras de filmes explotation, made in Cinecittà, funk e jazz bastardo, Trovajoli, Piccioni, com muito fuzz e baixos carregadíssimos.

(Guilherme) Música enérgica, viva, com componentes anárquicos, a Lisboa sonhada e bruta, vertiginosa e visceral.

Falem-me das Noites de Porcelana e de outros projectos ou colaborações que tenham efectivas ou em plano.


(Nuno) Uma amiga nossa, a produtora Luísa Rosa Baptista, andava a magicar um evento que mastigasse cinema e música, com sabores erótico e psicadélico. Quando o Duo começa, a Luísa estava por perto, e ouvindo o nosso som achou que se movia no universo que ela andava a pensar. Convidou-nos a participar no projecto, aceitámos imediatamente, no que resultou numa troca bastante intensa entre o Duo e o projecto, que acabou por se chamar Noites de Porcelana. Feita a programação, e tendo o MUV aceitado e acolhido o projecto, as Noites de Porcelana ganharam fogo, tendo iluminado as noites de segunda-feira em Lisboa. Aproveito mais uma vez para agradecer à Luísa pelo convite, ao MUV pela recepção, e às almas que por lá passam e se deixam queimar.

(Guilherme) Outro projecto a rebentar, é as Tardes Hedonistas. Em formato piquenique, redescobrir descomprometidamente Lisboa, ocupá-la nos seus jardins, pátios, terraços, piscinas, como se tivéssemos num idílico cruzeiro.

(Nuno) Um ócio alimentado de gente bonita, sincera, champanhe, tostas de atum e caviar, com grafonolas a rodar, um espaço de partilha informal, musical, sentimental, onde o que conta não é a grandeza com que todos sonham e se confundem, mas as coisas simples. E a minha ambição é, assim que o verão termine e comecem as chuvas a sério, levar as Tardes Hedonistas à casa das pessoas. Nós cozinhamos, tocamos a grafonola, abrimos as garrafas, lavamos a louça e limpamos os tapetes que se sujarem. Serviço completo e € na proporção real.

 Contem-me Lisboa em poucas palavras. 


(Nuno) Diz-se que Lisboa tem algo de encantador e sobre-humano. Sistematicamente ouço falar da luz, da luz de Lisboa que seduz. Eu acho que é exactamente o contrário. É a falta de luz que fascina, a Lisboa que se esconde no subsolo, nos edifícios abandonados, nos palácios esquecidos ou vendidos para Bancos, Hotéis, Centros Comerciais. É a sua longa história a revelar-se e a esconder-se logo após o terramoto de 1755. Uma Lisboa nova a procurar a dignidade do passado, atrapalhada a resolver com urgência os problemas de hoje. Caminha lentamente, escreve-se lentamente, tanto se abre como se fecha, sentimo-la inacessível. E nessa vertigem ficamos hipnotizados, somos obrigados a ficar mais tempo do que tínhamos pensado. É inquietantemente confortável.

Planifica-me aí uma noite de quarta em Lisboa.

(Guilherme) Após jantar e drink no café Tati – Cais do Sodré, por exemplo, desacorrentamos as bicicletas presas numa grade, seguindo num passeio nocturno junto à brisa do Tejo, abrindo garrafas, atentos a algum miradouro ou a alguma escadaria escondida entre buganvílias, dando fim à noite na casa de um velho ou novo amigo que se encontra, a discutir temas universais com biscoitos de canela, chá, e um gato a roçar as pernas.

Duo Porcelana :
http://duoporcelana.wordpress.com
http://pt-br.facebook.com/pages/Duo-Porcelana/270701736289347

Os Duo Porcelana estarão no próximo sáb 17, com os Beat Mod Club, no Europa

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Foto por Nélson Rodrigues (Linha (En)Carnada)

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