Le Entrevista aos Nigga Poison por NunoT


Quem são os Nigga Poison? Falem-nos um pouco das pessoas por detrás dos músicos.

Os Nigga Poison são originalmente formados por mim, Karlon e pelo Praga. Agora junta-se a nós o Beat Laden também. Somos pessoas muito simples, e que amam a música acima de tudo, e estamos sempre dispostos a novos desafios e a explorar novas fronteiras para além dos géneros musicais.

Como começou a vossa vida na música e como foi que as vossas carreiras musicais se cruzaram?

Já nos conhecemos desde miúdos, crescemos juntos no Bairro da Pedreira dos Húngaros. Quando começámos a querer rimar, não tínhamos equipamento nem beats, então fazíamos beatbox e rapávamos por cima. Os anos foram passando e em 1991 começámos com o grupo TWA; o Praga era Mc e eu era o programador musical deles. Depois eu e ele, em 1994, decidimos criar um grupo só os dois, e foi assim que nasceram os Nigga Poison.


Acabaram de lançar o vosso segundo álbum "Simplicidadi". O que podem os fãs esperar de novo e de continuidade relativamente a "Resistentes"?

Acho que a mensagem e os assuntos que abordamos nas letras estão na mesma linha de raciocínio em ambos os discos, talvez a sonoridade seja aquilo que mais os diferencia. No “Resistentes” ainda não tínhamos ido tanto para a eletrónica como neste, havia mais HipHop puro e duro, mais underground até. O “Simplicidadi” tem mais variedade, coisas novas que nunca tínhamos feito! Não queremos estar sempre a fazer a mesma coisa mas às vezes temos que voltar a um estilo, já tínhamos feito um Reggae com os Terrakota para o “Resistentes”, e agora insistimos outra vez porque nos sentimos bem a cantar Reggae... e em Crioulo ainda melhor!

É de certa forma estranho ou pelo menos uma surpresa, que os Nigga Poison mantenham uma boa aceitação junto dos fãs já vai para 17 anos, apesar do grupo ter no currículo apenas dois álbuns originais (para além de inúmeras participações pontuais em formato de colaboração). A que se deve este ritmo moderado de edição do vosso trabalho? É mais por questões práticas e de agenda ou é preferência no vosso método de trabalho?

Este álbum teve atrasos porque estávamos presos a um contrato com uma editora, o tempo foi passando e não nos editavam o disco, não sei se não gostavam de nós ou se não percebiam a música... até acho que eles não tinham tempo para ouvir as demos que trazíamos do estúdio, deviam estar ocupados com outros discos! Acho que o facto do disco ter muitas músicas em crioulo deve ter sido um fator para a sabotagem que a editora nos fez. Mas assim que terminou o contrato falámos com o Henrique Amaro e surgiu a oportunidade de editar pela Optimus Discos. Com esta experiência parece que no futuro não nos vamos prender a editoras com contratos que na prática não servem de nada, então o lançamento de discos vai ser mais regular.

E a surpresa é precisamente que o volume de fãs e a duração da vida ativa de uma banda possa ser, como no vosso caso, inversamente proporcional ao volume de edições discográficas. É o vosso lado "live" que mantém acesa a chama com o público?

Sem dúvida que é uma das mais valias do grupo. A energia que temos em palco é o fruto da relação cúmplice que temos com o público. Procuramos sempre fazer com que a experiência do concerto seja relevante para o público como para nós, é dar e receber!

É verdade que os vossos espectáculos são conhecidos pela carga energética e isso é visível em vídeos independentes dos vossos fãs (não em produções de videoclip). O que há de especial quando trabalham ao vivo? Acham que desenvolvem uma energia diferente da que emana em estúdio quando gravam um álbum? E já agora, para quem tenha perdido o vosso concerto de lançamento oficial de "Simplicidadi" no Musicbox, quando e onde vos podemos ver em Lisboa?

Quando trabalhamos ao vivo surgem sempre novas ideias de tranportar letras para outros ritmos, alterar e fazer remixes no live... claro que primeiro nos concentramos em cantar bem as músicas e dominar o que estamos a fazer, mas isso é na sala de ensaios, depois a coisa muda de figura quando estamos no palco.
Neste momento não temos nenhuma data em Lisboa que se possa anunciar, estamos agora a trabalhar com a Soundsgood no agenciamento e começámos a desenvolver um plano para 2012.

Mas quem quiser muito ver-nos, pode sempre contactar o [ fernandocabral@soundsgood.pt ] e nós lá estaremos de corpo e alma.

Qual é o papel de Karlon e Praga na produção dos textos e arranjos dos temas dos Nigga?

Eu e o Praga escrevemos as letras todas, ajudamo-nos a completar algumas coisas ou a melhorar as ideias que trazemos para o estúdio. Quanto aos arranjos, estes são partilhados com o Beat Laden, temos algumas ideias em conjunto e estudámos várias possibilidades, e contamos também com ajudas preciosas de alguns amigos que vão passando no estúdio.

A propósito, já tinham tido várias participações de outros artistas portugueses em "Resistentes", mas em "Simplicidadi" foi em grande! É evidente que é uma tendência e não é só na nossa praça, é algo à escala mundial. Primeiro, dá ou não um maior gozo quando se podem juntar várias veias artísticas, várias abordagens, várias inspirações durante o processo de criação?

Dá maior gozo sem dúvida ter estas participações no álbum. Para além do prazer de estarmos a partilhar o nosso processo criativo com amigos, há sempre novas ideias que surgem, novos truques, que depois resultam como um desafio para nós... Faz-nos sair da zona de conforto, artisticamente falando, e isso é essencial para evoluir.

E, segundo os Nigga, como é fazer música em Lisboa em 2011?

É fácil, porque o fazemos com muito prazer! E normalmente trabalhamos num sítio onde passam muitos artistas, pessoas novas que vamos conhecendo e trazendo novos inputs para futuras colaborações. Tirando o facto de a indústria musical aqui ser miserável, acho que há um bom ambiente entre os artistas e isso é o mais importante!

Lisboa é uma boa cidade para fazer crescer a música africana? E já agora, como são recebidos nos vossos espetáculos em Cabo Verde?

Sem duvida porque residem em Lisboa milhares de africanos e os seus descendentes. Em quase todas as casas destas pessoas se ouve música africana e os jovens têm essas referências. Parece que a indústria é que não aposta muito na música africana made in portugal, e é comum estes projetos terem mais facilidade em editar por labels estrangeiras.

Quanto a Cabo Verde, já fomos lá uma vez mas acabou por ser apenas uma viagem de turismo, sabemos que há possibilidade de atuarmos lá no próximo ano, vamos torcer para que seja uma realidade.

O hip hop revelou-se com o tempo ser um género (como o reggae por exemplo) que nasceu para ficar (não como outros géneros que se associam tipicamente a um período como o rockabilly ou o grunge). Mas, como todos os géneros musicais que perduram, adaptam-se, transformam-se. O que acham que será o próximo futuro do hip hop? Mais fusão com outros géneros cada vez mais díspares? Nascerá ainda um novo estilo de rappar ou de fazer hip hop music?

Poderão nascer novas formas de rappar, em termos de flow, mas quanto aos estilos já vimos grandes mudanças nos últimos anos, desde que houve uma viragem mais para o lado da pop. Houve vários artistas que o fizeram, desde o clássico “Walk This Way” dos Run DMC com os Aerosmith. Mas há sempre espaço para inovar, e talvez até seja o cruzamento com a música étnica uma das possibilidades menos exploradas.

Karlon, Praga, vocês conhecem provavelmente Lisboa como poucosl isboetas. Afinal, para além da cidade que todos conhecemos e vivemos, vocês conhecem também a outra que quase ninguém conhece. Qual é o vosso local especial de Lisboa? (vale toda a Grande Lisboa!)

Talvez a resposta seja uma deceção para vocês mas sentimos que os locais que mais nos inspiram são comuns, a Lisboa antiga, o eixo Castelo-Bica... claro que há locais onde estivemos que teriam interesse numa perspetiva mais sociológica da coisa, mas isso fica para outra conversa!

E quando não tocam, por onde andam? Onde vos pode encontrar esta cidade de dia ou de noite?

Nesse aspeto somos muito reservados, temos a nossa vida familiar e é muito raro sairmos à noite... só para ver alguns eventos interessantes. É mais frequente estarmos na “toca” a fazer ou a ouvir música, a conversar com os amigos, ou a deambular na net em pesquisas de coisas que nos interessam. A maior probabilidade de nos encontrarem será algures no metro ou comboio entre Oeiras e o estúdio em Cabo Ruivo.

Novo álbum a rodar gratuitamente nos mp3 players de toda a malta (e certamente os fãs agradecem!). O que podemos esperar agora? Novo álbum lá para 2015/2020 e muitas colaborações pelo caminho? Alguma surpresa?

O novo álbum dos Nigga Poison é já para 2012, agora que estamos numa fase de independência é sempre a fazer mais música! Talvez saiam também umas músicas soltas, uns EP, remixes. Mas não vamos já avançar tudo, as coisas vão fluir!

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Ligação
www.myspace.com/niggapoisonrap

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