Le Entrevista com os Lacraus por NunoT


Quem são os Lacraus? Falem-nos um pouco das 4 pessoas por detrás dos músicos.

Se por um lado há imensas coisas que temos em comum, por outro não poderíamos ser mais diferentes.
Somos 4 tipos, 3 casados, com filhos, e 1 solteiro.

Gostamos de rock descomplicado e direto. Gostamos de estar onde estamos. Temos todos 30 e qualquer coisa anos, e vimos todos do hard-core. Quisemos fazer um disco duro, mas ao mesmo tempo de estádio. Quisemos soltar o punk que nos alimentou, mas quisemos fazê-lo de maneira que um estádio pudesse fazer um monumental "sing along".


Como começou a vossa vida na música (de cada um)? E como é que as vossas carreiras musicais se cruzaram?

O Tiago e o Guel, começam juntos em Queluz. O Ricardo também faz parte dessa fornada inicial. Eu (Ben) conheço-os mais tarde, por uma cassete, ou um Cd-r que alguém me passou do género "tens de ouvir estes gajos". Ouvi, torci o nariz, mas não consegui ficar longe daquilo. Daí a nada estava num concerto. Anos passaram, e uma banda em que tocava na altura, toca com uma banda do Tiago e do Guel, e daí a começar a conversar e colaborar foi um salto. Estivemos todos noutros grupos juntos, e um dia fez sentido fazer os Lacraus. Mais gente entrou e saiu, e ficámos nós.

Lançaram há poucos meses o vosso primeiro álbum original. Porquê tantos anos até um primeiro registo long play?

O grupo estava em descanso prolongado. O Tiago teve o seu tempo como Guillul, o Guel, já há muito que acompanha o Samuel Úria ao vivo, o Ricardo estava a ser pai, ou um bom marido, e eu andava a viajar por essa Europa fora com a minha banda de até há bem pouco tempo. Só agora aconteceu, porquê ao certo não sei, mas tinha de acontecer, e assim foi.

Para além da banda os Lacraus (ou parte deles) gerem a editora FlorCaveira, sob a qual editam vários artistas (mais ou menos) independentes Portugueses. Como nasceu a ideia de uma editora ao largo da Banda?

Eu não faço parte dessa "parte", mas julgo que nasce como tudo, por fruto de necessidade. Ganhou foi proporções que talvez ninguém esperasse, mas está aí, viva (ao contrário da certidão de óbito que alguém já lhe quis passar), fresca, e com coisas novas a sair.

É uma forma de contribuir para a música em Portugal? Será também uma forma de potenciar a interação e colaboração entre os Lacraus e outras bandas Portuguesas?

Eu humildemente considero que sim, aliás, basta olhar para os nomes que agora figuram como incontornáveis na música dita portuguesa, de hoje. Nomes como o Úria, o Fachada, o Jorge Cruz e os seus Diabos, os Pontos Negros, entre outros, têm já o seu lugar. E uma coisa é certa, encontras o toque de cada um, nos discos uns dos outros. A música vive disso.

Considerando o contexto internacional de profundas transformações na indústria e mercado da música que vivemos nos últimos anos. Até há cerca de 10 anos, o conceito de banda passava pela identidade dos seus músicos. Geralmente um músico fazia parte de uma e apenas uma banda, e criava-se quase uma espécie de clubismo entre os fãs das bandas rock. Hoje, um músico, por razões económicas ou não, colabora geralmente em n bandas e/ou projetos com músicos. Acham que é possível a extinção das bandas como as conhecemos até aos anos 90?

Não sei se será inteiramente verdade esse conceito. Regra geral toda a gente que esteve numa banda de sucesso, fez parte de outras tantas, e muitas vezes ao mesmo tempo. Normalmente ficava-se pela que chegava a algum lado. A música faz-se muito desse intercâmbio, e nesse aspeto julgo que nada mudou. Mas hoje há mais facilidade em fazer tudo, em gravar tudo, e tem muito mais piada fazer coisas com outros.

A música, especialmente em contexto de banda, faz-se de partilha, se interagirmos mais que nunca (redes sociais, etc) porque razão na música haveria de ser diferente? E depois toda gente ouve música variada, e tal como a ouve, também a faz. Mas há aspetos que sim, que mudaram, e dificilmente voltarão a ser o que eram. Nós até somos priveligiados, de ter quem nos apoie, e acredita em nós, e de ter uma equipa excelente.

Os Lacraus fazem, segundo as vossas próprias palavras, "panque roque com coros harmónicos ao jeito de Stevie Wonder". Como vos surgiu essa ideia?

A música dificilmente pode ser moldada, ela sai e tu persegue-la. Apesar de tudo, o que ouvimos, acaba por sair no que produzimos e apenas aí conseguimos ter mão no resultado final.

Mas essa definição acontece posteriormente à música estar feita. É fruto de uma constatação acima de tudo.

E já agora, acham que poderiam, caso tivessem crescido nesses anos, ter criado uma banda "punk rock com backvocals harmónicos" nos anos 70/80?

Crescemos nos anos 80! E os coros harmónicos vêm de muito antes dos 70. Beatles, Beach Boys, etc. Portanto a resposta é sim.

Em todo o caso, Punk Rock com coros à Stevie Wonder soa muito bem, como expressão descritiva post-moderna! Bem, e a música também soa bem claro. Aliás, nem me atrevia a dizer mal da vossa música depois do que fizeram ao Nuno Markl com a ajuda do Miguel Ângelo. Já agora, o Miguel é acessível? Leva muito por estas "árduas" tarefas? Acho que temos aí uns servicinhos para tratar na classe político-corrupta portuguesa, e se calhar vocês podiam pôr uma cunha ao Miguel. E talvez até fazer um tema épico para "o fim da trafulhice na terra de Camões"… ou algo assim.

A verdade é que a experiência foi traumática para o Miguel. Depois do sucedido, deixámo-lo a repousar em sua casa no Estoril, banhado em sangue, com um olhar para o vazio, e ele nunca mais foi o mesmo. Agora quanto a desenvolvimentos político-sociais, podemos até cantá-los em tom profético, como o disco por vezes sugere, mas, ficamo-nos por aí.

Bem, mas quais são as vossas históricas influências musicais?

Isso é mesmo muito complicado de responder, a resposta seria mesmo muito longa, mas ficam alguns dos pilares: Dylan, Cash, Presley, Ramones e, claro, Springsteen.

E segundo os Lacraus, como é fazer música em Portugal durante talvez a mais dura crise económica das vossas/nossas vidas, so far?

Estamos a descobrir, mas sempre nos habituámos a fazer música com o que havia à mão, e já tudo serviu, desde leitores de cassetes (sim, cassetes), gravadores de pistas, minidiscs, pc's, iphones, ultimamente. A música não precisa necessariamente de depender do meio, precisa de ser honesta e de um bom refrão.

Lisboa é uma cidade de espírito punk? E já agora, como vêm o futuro do Punk em Portugal e no mundo?

Essa é uma pergunta interessante… Lisboa é uma cidade que se vai fazendo mais linda, mas com gente estranha, confesso.

Acho por vezes a cidade boa demais para algumas pessoas que dela (mal) se aproveitam.

Mas o que se entende por espírito punk hoje em dia? O pop-punk, esse, diz-se que vem aí em força, o outro não sei. Há quem diga que morreu. Por aí também se poderia subentender que Lisboa tem um espírito que morreu. "Lisbon is not dead".

Qual é o vosso local especial de Lisboa? (dos Lacraus ou de cada um dos membros)

Dos Lacraus sem dúvida São Domingos de Benfica. É pouco glamouroso é certo, mas é onde nasce este disco, é onde ensaiamos, e é onde semanalmente congregamos na Igreja Batista do mesmo local.

E quando não tocam, por onde andam? Onde vos pode encontrar esta cidade de dia ou de noite?

O Tiago começa o dia na praia de Carcavelos, e sempre que pode, aventura-se no mar, passa por São Domingos de Benfica, e volta a Oeiras à noite. O Ricardo anda de um lado para o outro por Lisboa a fazer coisas com computadores, mas ao fim do dia volta a casa para o seu bebé. E sim refiro-me ao iPad. O Guel, em Lisboa, só se for aeroporto de volta a casa. Eu ando um pouco por todo o lado. Como não tenho família constituída, sobra-me tempo para passar com amigos, nos sítios calmos do costume, a saborear galões, e conversas, tirar fotografias, e de noite quando posso, concertos, regra geral de amigos.

O que podemos esperar agora no futuro da Florcaveira? Surpresas na calha?

Eu diria que sim. O Samuel Úria está a ultimar o próximo disco dele. Do pouco que ouvi (2 canções) está aí mais um grande disco. O Bruno Morgado, editou o seu disco também, em direto no programa "Preço Certo".

É estranho, eu sei, mas é googlar Bruno Morgado, e percebem que faz todo o sentido. E em breve teremos sangue novo, o qual tenho o prazer de produzir. Há dois dias sagrou-se segundo classificado no Festival Termómetro. Mais uma vez, é googlar.

Ligações:

Os Lacraus não têm pagina de facebook (por opção)

Videoclips:
http://www.youtube.com/watch?v=GkOLTwO_Mwk
http://www.youtube.com/watch?v=5vCyPxtfEfM

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