Le Entrevista a Francisco Pinheiro (Le Cool Team) por Rafa


Fala-me de ti na terceira pessoa - comenta como se fosses um jogador de futebol a comentar o mister: "O Francisco mexe-se bem, puxa todos para a grande área com a sua força humana..."

O Francisco é a latência daquilo que se poderia descrever como a arte maior. Não vive de uma só frente (apesar de ser na frente que se vê intitulado a pagar as contas mensais), mas enfrenta as que lhe surgirem nesse ardiloso caminho da felicidade a que se chama vida. Entre a conclusão de um desejado curso de arquitetura ao início da actividade profissional em Portugal, passou pelas pradarias calorosas da meseta espanhola e exilou-se por dois anos na capital de 'nuestros hermanos'. Arrastado pela onda colossal do subprime financeiro, regressou ao país que o viu nascer mas do qual não tem nacionalidade.
Nascido, criado e, quase em permanência, de vida feita em Portugal, o Francisco tem essa longa e intrínseca história sobre ser brasileiro no seu B. I..


Que fizeste e o que andas a fazer neste momento.

Histórias e contos longínquos à parte, a minha história de arquiteto regressado, segue nesse paradeiro ambicioso que inicia esta história. Seja pelo declínio profissional da profissão, seja pelo sonho hollywoodesco dos musicais dos anos 50, decidi (e em boa hora) arrancar com o meu sonho em ser cenógrafo. Ingressado na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, estou afincado e de pé firme a meio do primeiro ano desse mestrado essencial para a minha trajetória de futuro.

Com futuro segue a parceria literária mais Le Cooliana da minha vida. Entre o rapazinho que dava erros em barda numa longínqua primária até ao multifacetado inventor das palavra e expressões mais oblíquas que o acordo ortográfico tenta aniquilar, vejo nesta parceria com o melhor magazine cultural desta terra e além mares, o espaço para a criação e extensão da minha vida profissional.

Entre sussurros e segredos do metier, revelo aqui, em primeira mão, ser o famoso e muy eloquente (para não dizer louco) Barão Von Rau Pipiska, uma criação no mínimo estranha que reconta partes de uma vida quase eterna.

Que achas do vício de fumar? (Tens o vício de fumar?)

Heterónimos 'Matusalém'nescos' e presunções à parte, de vícios tenho um só. Posso não fumar e fazer dum cigarro charme de engate, mas faço de uma coca-cola bem fresca, com uma rodela de limão, quase que uma arte de decantar um bom vinho à profissional.

Partilha cinco dos teus maiores gostos. Sei que conduzir é um deles. E ser conduzido?

Sem eloquências de estilo, 'gosto de gostar de ser gostado em gosto de gostar'... Redundâncias à parte ou exercícios para travar a língua e aprender a pronunciar palavras, os meus verdadeiros gostos (além de escrever e expressar-me através de palavras esdrúxulas) passam por uma espécie de terapia ocupacional. Cinéfilo por natureza, gosto de ver transposto à tela um bom livro, denso e com conteúdo. Papo séries feito louco, e entre escrevinhar no meu diário gráfico, desenho aquilo que a imaginação deixar.

Neste retorno universitário voltei a dedicar-me a essa arte do modelismo aplicado. Ainda agora estive imerso no mundo de Jacques Tati a recriar em maqueta cenas dos filmes 'Mon Oncle e Play Time'. Não sei se são cinco os meus gostos, mas sinto-me o Homem dos sete ofícios.

Redige agora mesmo - assim de improviso e sem revisões, um apontamento sobre a Le Cool Lisboa.

Le Cool é uma viagem, daquelas de mochila às costas e uma bússola sem compasso enfiada na algibeira. Podes não ser rico ou ter-te saído a lotaria, nem mesmo ido a um banco pedir um empréstimo para aumentar a dívida nacional, mas aqui seguramente encontras um entretém à medida do teu bolso.
Mesmo que não vás, ao ler-nos já ficaste com aquela casquinha que te dá a provar um sabor. Arranhamos não para ferir, mas deixamos sempre uma marca que perdura (com e sem acordo ortográfico).

Agora e em conclusão, fala-me de Lisboa. Descreve, partilha, o que te dá e o que te retira esta cidade.

Lisboa é uma aprendizagem. É aquela longa relação da qual já saímos várias vezes, mas sempre arranja forma de se voltar a meter connosco na cama.

Eterna paixão, é nas suas calçadas luminosas que nos dias de chuva se escorrega mais, e como tal, Lisboa pode até me provocar raiva. Zangas à parte, a cidade vive do movimento deste rio. Viver fora, isolado na secura da pradaria, fez me ver que a oscilação náutica (a roçar o marítimo) marca o ritmo da cidade.
Pode-se sentir o cheiro a maresia, a sardinha assada nos Santos, e até as greves na recolha do lixo, mas a cidade abre-se e multiplica-se nessa mistura multicultural que define a nação que, fazendo-se ao mar, deu novos mundos a este mundo.

Sinuosa cartografia, misturada em estilos, aquilo que mais me apraz na cidade do marujo de boina branca, é a confluência e choque das sucessivas arquitecturas que definem o espaço urbano. Por aqui a organização ganhou asas e voou. Dos corvos na nau restam agora pombas, sujas e imundas, ao magotes pela estatuária lisboeta. Mas nessa alusão canora, Lisboa ganha em erros burocráticos e buracos remendados por multinacionais. A cidade confronta a graça da antiga vila operária com a arquitectura modernista suave. Por cá bajulam-se os egos e afagam-se as ideias, que Lisboa constrói-se com o tempo, pois esse é mesmo o que nos resta para esperar.

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