Le Entrevista a Fernando Cabral por Nuno T

Bom dia Fernando. Antes de mais, como te sentes hoje? Como está a correr o teu dia?

Sinto-me bem, acordar todos os dias vivo é uma benção e dou muito valor a isso, é aproveitar a vida todos os dias ao máximo e tentar fazer algo positivo.

Conta-nos, por favor, um pouco da tua vida e de como nasceu a tua carreira profissional na música. Para além da produção de eventos, és músico? Tens ou tiveste algum projeto musical?

Nasci na Guiné Bissau e vivi em Africa até aos 7 anos, seguiu-se Paris até aos 18 e desde 1994 em Portugal. Sempre fui muito ligado à música, cantava numa banda quando era adolescente mas nunca tentei uma carreira a sério, mas a música teve sempre presente na minha vida e é a minha maior paixão. Em 1999 fiz o 3º ano de faculdade em Nova Iorque onde fiz um estágio na VP Records, maior editora mundial de reggae, foi aí que pensei que talvez poderia seguir este caminho profissional além de ter sido a minha primeira experiência no meio do reggae e dos jamaicanos.

Regressei a Portugal e trabalhei na Universal Music e outros. Em 2000 comecei a atuar regularmente em bares de Sintra (tive 3 anos a atuar todas as sextas no Rustikafé em São Pedro de Sintra), Lisboa (Bar 121, Clube Naval, Mood, Jamaica etc.) e arredores, como Dj e ao ver que a malta curtia cada vez mais o reggae comecei a organizar festas em 2002 com a Positive Vibes e nunca mais parei…

E a Sounds Good quando e como nasceu?

Saí da Positive Vibes em 2008 e criei a Sounds Good, como sempre fui a pessoa responsável pelos bookings da PV vinha já com uma bagagem muito grande de contatos e experiência que me levaram a seguir em frente com este projeto. Em 2009 entrou o meu sócio Miguel Ângelo e as coisas têm estado a crescer ano após ano.

A Sounds Good está a preparar o primeiro festival de Reggae em Portugal, o Reggae Blast, com o primeiro dia no Campo-Pequeno em Lisboa, e o dia seguinte no Porto. Quais são as vossas expetativas para esta inauguração, e o que deve/pode o público esperar para estes "dois dias de Reggae non stop"?

A expetativa é muito boa pois temos um excelente cartaz e a promoção esta a correr muito bem. O público pode esperar duas grandes noites de celebração da música reggae em todo o seu sentido, ou seja muita união, boa música e vibrações fortes entre os artistas e o massivo. O cartaz tem 3 nomes muito fortes ao vivo que prometem incendiar Lisboa e Porto, além disso, todos os artistas são muito amigos uns dos outros portanto o ambiente promete ser muito bom e haverá de certeza umas surpresas e grandes momentos.

E para além do Reggae Blast, mais novidades na calha que se possam antecipar aqui na Lecool?

Já temos garantido o regresso de alguns artistas top da Sounds Good este verão e também estreias de novas apostas, não posso divulgar muita coisa...

A Sounds Good trabalha vários géneros musicais, todos de raiz fortemente Africana, sendo o Reggae talvez o género com principal destaque. Que tempos vive o Reggae em Portugal? Temos mercado para espetáculos de Reggae, e quem sabe para a edição de discográfica?

Eu faço parte do movimento reggae em Portugal há muitos anos, já oiço dizer há quase 10 anos que o reggae esta na moda, começou com Gentleman ou Patrice e continua hoje em dia com Dub Inc, SOJA, Alborosie, Groundation, etc…Fico muito feliz de ver que o Reggae já se espalhou pelo país todo pois hoje em dia existem soundsystems, bandas e festas organizadas em Aveiro, Torres Vedras, Porto, Braga, Faro, Açores, Margem Sul, etc… a nova geração está aí com força e isto deixa-me muito feliz pois prova que a semente foi bem plantada e começa a dar frutos…parabéns e força a todos! Em termos de discos, artistas como o Richie Campbell, Bezegol, Souls of Fire, Urbanvybz, Prince Wadada, Kussondulola (sempre aí), Jah Vai, Like The Man Said e tantos outros mostra que existe um mercado em crescimento e público a apoiar, força para todos.

No site da Sounds Good encontramos artistas de praticamente todos os Continentes. Europa, América, África, Oceania. Para além de trazer cá estes artistas, a Sounds Good trabalha também em eventos além fronteiras?

Sim, eu sou de Guiné Bissau e a minha família tem fortes ligações a Cabo Verde e outros países africanos como o Senegal e a Costa do Marfim, já fizemos vários concertos em Cabo Verde que é um mercado no qual queremos investir. Além disso e duvido as minhas muitas viagens ao continente e ligações a artistas como Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim), Naby e Meta Dia (Senegal), Manjul (Mali) e outros, Africa é um continente que nos atrai muito e esperemos nos próximos anos estar cada vez mais presente lá, Africa is the Future… A Sounds Good tem a sorte de trabalhar com artistas do mundo inteiro e obviamente que isto também nos leva a querer estar presente nos seus países, o meu sócio tem fortes ligações aos artistas brasileiros que é também outro mercado que nos interessa muito.

O Reggae é um género musical com pelo menos 40 anos de idade, e que já está demonstrado que não morrerá nunca. No entanto, tal como todos os géneros musicais, tem evoluído e mutado ao longo dos anos. Qual poderá ser a próxima evolução do Reggae? E que possibilidade tem o Reggae de se fundir substancialmente com outros géneros e quem sabe criar um subgénero novo? (Por exemplo, lembro-me de um disco de Gilberto Gil totalmente constituído de temas de Bob Marley tocados em chave de Bossa/Samba. E a combinação rítmica de ambas as raízes musicais resultou, a meu ver, muito bem). É possível esperar a afirmação de fusões como esta num futuro próximo? Sobretudo numa era em que os músicos, movidos pela necessidade de rentabilizar o seu tempo, se associam muito a outros músicos.

Eu acho que o reggae hoje em dia já não pertence apenas à Jamaica e está presente no mundo inteiro com cada país a incorporar as suas tradições e cultura na música, isto esta bem presente no nosso catálogo de artistas com nomes como Dub Inc (França), Groundation (USA), SOJA (USA), Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim), Terrakota (Portugal) e outros que não sendo jamaicanos criaram o seu estilo próprio, penso que a evolução da música passa por aí. Na Jamaica o dancehall domina as pistas de dança mas o roots esta sempre presente e penso que regressará em breve com muita força pois foi o que aconteceu nos anos 90 e penso que irá acontecer novamente, o mundo atual precisa de música consciente e com mensagens fortes.

Fernando, se não existisse o Reggae, qual seria o teu género musical de eleição?

Penso que seria a música africana que é a raiz de tudo.

Lisboa tem uma alma Reggae?

Portugal é um país que vibra com reggae, penso que se deve ao nosso clima, às praias e ao povo, não apenas Lisboa mas em todo o país, aliás quando cá cheguei em 1994 sempre fiquei espantado que não houvesse mais reggae aqui porque todas as condições estavam aqui, entretanto muita coisa mudou e a minha visão tornou-se numa realidade, o reggae esta aí forte e recomenda-se.

Qual é o teu cantinho especial em Lisboa?

O Bairro Alto é sem dúvida o sítio que frequento mais há já muitos anos, o bar do Horácio (O Pescador), o 121, Mood, Spot Bar e, ultimamente, o Roots Bar do Tiago Careca são os meus spots de sempre.

E onde te pode encontrar nesta cidade de dia ou de noite?

De dia numa praia com ondas e de noite em casa com a minha empress ;-) Óbvio que quando vale a pena lá estarei nas festas e concertos a curtir um som.

Por fim, podes sugerir locais de Lisboa aos leitores da Lecool interessados na oferta Reggae da cidade? Locais com regular programação Reggae.

O Jamaica continua aí sempre as terças feiras, mas há festas um pouco por todo lado, sítios como o Bacalhoeiro, Arte e Manha, Bicarte, Casting Club (LX Factory) e outros, têm regularmente festas reggae com todos os soundsystems e djs locais. É só estar atento, também podem consultar sites como o Reggae Vybez, Inforeggae e as páginas de facebook dos diversos sounds e produtoras.

Muito obrigado e boa sorte para o Reggae Blast. Eu vou e já estou ansioso!
Obrigado Le Cool :-)

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* Originalmente publicado a 22 de Março de 2012, na Le Cool Lisboa * 332

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