Le Entrevista a D-Mars / Rocky Marsiano por Nuno T


Marko Roca também conhecido como D-Mars, Rocky Marsiano, o Microlandês ou ainda como "Espião em Amsterdão", é certamente um dos DJ/Produtores portugueses melhor projetado na Europa nos dias de hoje. Depois do seu intenso e bem construído percurso com a (entretanto extinta) Loop Recordings em Lisboa, D-Mars transferiu-se em 2008 para Amsterdão, cidade onde tem elevado a sua carreira enquanto Músico, DJ e Produtor, e a partir da qual tem aproveitado para projetar no mundo alguma da corrente musical eletrónica made in Portugal.

"Lisbon Bass" compila o trabalho de 14 jovens músicos dos mares da eletrónica de dança portuguesa e é o mais recente projeto de D-Mars enquanto produtor, segundo o qual este disco surge com a intenção de captar o momento especial que a música eletrónica vive atualmente em Lisboa. A Le Cool Lisboa aplaude a iniciativa e o projeto e encontra-se com Marko Roca para saber mais sobre si, a sua estadia na cidade do mais puro "Open Mind" e sobre este potentíssimo "Lisbon Bass".



De então até hoje - quem é e de quando e de onde vem Marko Roca? Fala-nos um pouco da tua história e da pessoa por detrás do músico.

Sou filho de pai Croata e mãe Minhota. Nasci em Zagreb há 35 anos. Mudei-me para Lisboa em 1992. A família vem em primeiro. Agora moro em Amesterdão já há quase 4 anos por me ter apaixonado e depois casado com uma Holandesa. Faço música desde os 21 anos, primeiro como MC e depois a produzir beats.

Além de artista também sou técnico de som o que sempre me ajudou enquanto produtor musical. A atividade editorial tanto na Loop como agora na Adam And Liza vem mais da paixão pela música do que como uma maneira de ganhar a vida.

Quando foi e como foi que na tua vida entrou a música que se viria a transformar numa carreira?

A primeira vez que ouvi hip-hop já com ouvidos mais maduros foi com 13 anos. Public Enemy foi talvez o grupo que mais impacto teve na minha imaginação. Foi o primeiro disco que comprei “Yo, Bum Rush The Show” em cassette pirata numa rua em Zagreb. Na altura era-me possível ver a MTV (ainda apenas Americana) via setélite. Todos os dias dava a versão original do “Yo! MTV RAPS”. Aquilo foi determinante para mim, um puto. Depois em 1991 mudei-me para Roma durante um ano e lá pude ter acesso a muita música que era lançada nos EUA. Comprava discos todas as semanas. Foi aí que comecei a minha coleção de vinil.

Sobre a música do Marko Roca e o projeto Lisbon Bass - como surgiu a ideia de uma edição discográfica de Artistas Lusos, especificamente na eletrónica dos graves?

Esta compilação com 14 artistas a apresentarem os seus temas originais vem de uma necessidade de compilar um certo “movimento” que existe e é único em Lisboa. Junto com a Violet das A.M.O.R. conseguimos reunir quase todos os nomes mais representativos da chamada Bass Music de Lisboa e arredores. Alguns destes artistas têm dado cartas fortes em Portugal e lá fora (p.e. Octa Push e Gasparov numa compilação da Soul Jazz ou os elogios aos Photonz e Infestus, para não falarmos no estatuto atual do DJ Ride em Portugal) e para mim fez sentido apanhar esse momento numa compilação.

Sentes sobre os teus ombros, dada a tua atual posição estratégica na Europa, uma certa responsabilidade em levar o Lisbon Bass por aí fora?

Não é um peso, é um prazer. A música não é minha e isso dá-me outro tipo de pica em termos de motivação promocional.

Foi fácil reunir esta malta toda para o Lisbon Bass?

Acho que nunca é totalmente fácil fazer compilações. Esta levou quase um ano para estar fora. Mas acho que conseguimos todos os nomes que realmente queriamos ver representados, tanto eu como a Violet.

Houve algum critério na seleção dos músicos? Alguém que, com pena tua, tenha ficado de fora, e gostasses de lhe(s) deixar aqui uma referência?

Claro que escolhemos os artistas com algum impacto. Se alguém ficou de fora foi por falta de espaço na compilação e por uma questão de tempo.

Sobre ti e a tua música, e começando onde ficámos há uns anos atrás: estavas de malas feitas para Amesterdão, e a Oxigénio anunciava em loop a tua "missão espacial de espionagem Tuga em Amsterdão". Como foram estes anos entretanto passados por esses lados?

São já quase 4 anos a viver aqui, embora já antes tenha vindo cá muitas vezes ao longo dos últimos 8 anos para estar com a minha cara metade. Amesterdão é uma cidade interessante, embora bastante pequena e onde o meio musical é muito fechado. Com sorte tenho trabalhado na indústria musical: primeiro dois anos como LabelManager o que foi fantástico e agora como Music Supervisor numa empresa que, entre outras coisas, licencia música para campanhas publicitárias, jogos etc.

Achas que continua a haver características distintivas na música de vários sítios da Europa (e neste caso, da música electrónica) ou vivemos num mundo 100% globalizado e a música que se faz hoje em Amesterdão não tem traços distintos da que se faz por exemplo, e lá está, em Lisboa?

Sim, sou forte crente dessa distinção sonóra. No hip-hop passa muito pela língua mas também a nível criativo, gosto sempre de ouvir a mistura de influências locais no som vindo de certas cidades. Claro que muita da música é muito parecida, nem toda bebe dessas influências distintas. Mas eu pessoalmente gosto quando isso acontece.

Como se desenvolve geralmente o teu processo criativo? É normal passares algum tempo em estúdio a experimentar coisas para depois selecionares e desenvolveres apenas as melhores ideias, ou arrancas à partida com uma ideia bastante clara já na cabeça da música que pretendes criar?

Como tenho projetos cujos estilos são às vezes bem diferentes (do hip-hop ao house), costumo focar-me num estilo de cada vez e os processos criativos oscilam bastante. Com beats dependerá muito dos samples que saco enquanto com um tema de house gosto de trabalhar primeiro o groove e depois o resto.

Conta-nos mais sobre o Marko, o D-Mars e o Rocky Marsiano. Quais são estas tuas múltiplas personalidades?

Hehe! Perguntem ao meu psiquiatra… São tudo a mesma pessoa e estão sempre presentes em tudo que faço. O D-Mars é o meu nome artístico mais antigo e que mais me marcou. Sou um veterano do hip-hop em Portugal, tanto como MC quanto como produtor (era o único com 4 temas produzidos no Rapública) e DJ. O Rocky é o meu alter-ego mais ligado apenas à produção e muito colado a sonoridades nascidas da fusão Hip-Hop/Jazz. MarkoRoca sou eu, é o meu nome de nascença que muitos poucos conhecem.

Tenho usado o meu nome “verdadeiro” para as minhas atividades mais ligadas ao house e techno (after-hours do Europa ou a tocar no Weekend Club em Berlin).

Tens parceiros regulares na tua produção musical?

Não, sempre trabalhei muito a solo quando se trata de produção musical. Se há alguém que mais se aproxima de um “parceiro” então essa pessoa é a minha mulher, a D_Fine. Juntos criámos o nosso projeto Double D Force que foi editado na Loop. Ela também é a minha musa e principal voz feminina presente nos 3 álbuns de Rocky Marsiano.

Qual (onde foi e quando) o teu melhor concerto/live act? E o pior? O que tiveram de especial?

Em termos de Hip-Hop o concerto com os Micro (a minha banda) a abrir os De LaSoul nos Coliseus em 2004 (desculpem se me enganei no ano). O pior foi num palco improvisado num evento no antigo bairro do Lumiar. Com Rocky o melhor foi na Gulbenkian e o pior ainda não aconteceu.

Qual foi o primeiro disco que compraste?

“Yo! Bum Rush The Show” dos Public Enemy.

Melhor guitarrista de sempre?

André Fernades, o grande talento do jazz nacional. Tenho tido a sorte de poder tocar com ele ao vivo nos concertos de Rocky Marsiano. O último álbum “Motor” é genial.

Melhor baterista de sempre?

Só pode ser o Clyde Stubblefield que tocou no tema “Funky Drummer” do JamesBrown.

Melhores vozes masculina e feminina de sempre?

Sou grande fã de toda a música do Curtis Mayfield. Toda a música é genial. O mesmo posso dizer em relação a Ella Fitzgerald que pertence a uma outra dimensão.

Como é fazer música na Holanda em 2012? E como seria em Portugal?

Aqui sinto às vezes a falta dos meus velhos companheiros como o Rui Miguel Abreu ou o Sagaz que sempre me davam feedback.

Onde gostavas de fazer o teu concerto/performance de celebração de 30 anos de carreira? E se pudesses, quem gostarias de convidar ao palco a tocar um tema contigo?

Gostava muito de fazer um concerto no Coliseu de Lisboa com os Micro, a minha banda de sempre e convidar o Krs-One.

Qual é a melhor sala/espaço de concertos de Lisboa? E do país?

O meu espaço noturno preferido em Lisboa é o Europa. Mas como sala de concertos gosto mais da ZDB.

Quais é o teu local preferido em Lisboa (de noite e de dia) e o teu canto secreto na cidade do Sol?

Gosto muito da zona do Cais do Sodré de dia e de noite. Talvez por ser dos que viajam para o centro sempre de comboio. O meu spot “secreto” é o Miradouro Sra. Do Monte. Brutal à noite.

Muito obrigado. Keep on Rockyin'!

Obrigado eu!

Links:
www.adamandliza.com
www.lisbonbass.bandcamp.com

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