Le Entrevista a Adelino Gomes por Marcelo Valadares


Adelino Gomes é uma das vozes do 25 de abril e um personagem marcante do jornalismo em Portugal. É dele um dos principais relatos que ficaram para a história da revolução, tanto pelo lado informativo quanto pelo emocional. A Le Cool Lisboa teve uma rápida conversa com um dos principais nomes do jornalismo português sobre o 25 de abril.

Como entra Lisboa como personagem na sua vida?

Lisboa entra na minha vida como personagem no dia 25 de abril de 1974, no Terreiro do Paço – peço desculpa às outras cidades que têm belas praças, mas essa é a mais bela praça da minha aldeia. (risos).

Mas é de Lisboa?

Não, sou de Leiria. (Volta à resposta anterior)
 


Neste dia, Leiria encontrou-se com Lisboa. Porque, eu sendo de Leiria e estando em Lisboa deste 1963, encontrei-me no Terreiro do Paço com um antigo colega, que tinha andado comigo em Leiria, e que por acaso era o comandante das forças que derrubaram 48 anos de fascismo (o Capitão Maia). Então, ao reencontrar este colega de Leiria no Terreiro do Paço, demos um abraço, um pouco antes da revolução, junto ali do Rei D. José em cima do seu cavalo. Dali, arrancou a coluna do Salgueiro Maia que foi cercar o Carmo e prender o Marcelo Caetano, que tinha sido meu professor de direito constitucional uns anos antes. Leiria e Lisboa encontraram-se à beira do Tejo, num dia que foi o mais feliz da minha vida como cidadão.

E Lisboa continuou como personagem da sua vida?

Sim, Lisboa continuou. Na verdade, já era antes do 25 de Abril. Havia uma Lisboa anterior a esta, que lutou por esse dia. Quando eu trabalhava na Rádio Renascença comecei a ter consciência política, e o jornalismo ajudou-me a ter essa consciência.

Um dos primeiros sítios onde trabalhei foi perto do Chiado, na Renascença e, portanto, foi ali que fiz o comentário, que não apresentei para a aprovação da censura, e que levou que me proibissem de trabalhar na rádio e me fez ir para a Alemanha. Quando eu voltei para Portugal, 6 meses depois, na manhã do dia 25 de abril de 1974, sou avisado que os militares estão na rua. Esta Lisboa entra na minha vida num espaço que tem talvez 2 km², que é o espaço Chiado/Terreiro do Paço. Foi onde Lisboa esteve na minha vida até 1974, sempre com o Tejo a assistir e com o Castelo lá em cima.

Se hoje lhe perguntassem quais os lugares marcantes do 25 de abril, quais diria?

Sem dúvida o Terreiro do Paço e o Largo do Carmo são os locais mágicos. Para mim, se alguém quisesse fazer a peregrinação do 25 de abril, partia do meio do Terreiro do Paço, junto da estátua de D. José, ia pela Rua do Ouro, chegava ao Rossio, subia a Rua do Carmo, a seguir a Garrett até chegar ao Largo do Carmo. Mas depois fazia uma pequena peregrinação até à Rua António Maria Cardoso, onde ficava a PIDE. As únicas mortes no 25 de abril foram causadas pelos agentes da PIDE, que abriram fogo sobre os manifestantes que iam do largo do Carmo até à antiga sede da PIDE, onde hoje é um condomínio privado. Mas está lá uma placa a dizer o que se passou no dia 25 de abril. Então, a peregrinação do 25 de abril tem que começar por esse caminho vitorioso e depois relembrar esse lado opressor.

E o teu 25 de abril deste ano?

Pela primeira vez na minha vida, estive em Leiria para fazer o discurso oficial das comemorações do 25 de abril, e a falar sobre este encontro, no Terreiro do Paço, entre mim e o Capitão Maia, com quem estudei no Liceu Rodrigues Lobo, em Leiria. O nome do Liceu, inclusive, é dado por causa de um grande escritor do século XVII, que também era de Leiria.

Relato 25 de abril
http://www.youtube.com/watch?v=_iXexo_WqIg

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