Le Entrevista a Pedro Leitão por Cláudio Braga


Pedro Leitão, diretor festival PUFF

Pedro Leitão, um alfacinha nascido bem no coração de Lisboa, prepara-se para fazer emergir o melhor do cinema dito underground e espalhá-lo pelo país. A poucos dias do arranque oficial do PUFF – Portugal Underground Film Festival e depois de Lisboa ter sido a primeira a provar uma das ‘iguarias’, que serão servidas, entre 8 e 16 de junho, simultaneamente, em Portimão e no Fundão, fomos conhecer o “louco” que se lançou nesta cruzada épica de organizar um festival com filmes que quase ninguém conhece, vindos dos quatro cantos do mundo, e, ainda por cima, de baixo orçamento.

Fala-nos de ti: quem é o Pedro Leitão? O que o move?

Falarmos de nós próprios quando se trata de desenvolver um projeto desta dimensão, numa altura em que vivemos num país que assassina qualquer manifestação cultural, torna-se uma questão sem grande interesse e nexo... Num país conformado a obedecer a uma ditadura disfarçada e à estupidificação do seu povo, o que me move é tentar proporcionar alguns momentos de entretenimento e de acordar as nossas mentes adormecidas… há várias décadas.



Sei que viveste em França, como é que se dá a tua vinda para cá?

Sim, vivi 17 anos em Paris e talvez um dos maiores erros da minha vida tenha sido voltar para Portugal. Sinto saudades da cultura, do sentido cívico, da responsabilidade social… Tudo elementos presentes nos meios nos quais cresci e que não encontro desde 1999, ano em que voltei a Lisboa.

De que maneira é que te enriqueceu essa passagem por França?

Numa idade em que vivi tantos anos em Paris como em Lisboa, não existe comparação possível, sendo que as duas cidades têm pontos positivos e negativos. França, onde fiz toda a minha escolaridade, foi o país que me construiu como ser humano interessado e preocupado com os problemas e as alegrias que nos colocam como membro duma sociedade. Basta dizer que um estudante duma escola francesa saberá certamente mais sobre o que foi o 25 de Abril do que um jovem português. A minha passagem por França julgo que me tornou numa pessoa mais interessada pelos problemas da sociedade. Ensinou-me a viver em grupo. Portugal desensinou-me isso tudo...

A ‘tua’ Lisboa é bastante alargada, uma vez que vives em Odivelas. Haverá algum lugar secreto que nos queiras dar a conhecer?

Saí de Lisboa, julgo que pelas mesmas razões da maioria dos Lisboetas. "Proibiram-nos" de viver na nossa cidade. Nasci na Rua da Palma e sou portanto bem alfacinha. Talvez a "fama" me deixe voltar a viver na cidade onde nasci (risos)! Quanto ao lugar, se vos digo, deixa de ser secreto...

Um menos secreto, então…

Desde a tradicional tasquinha lisboeta à multiculturalidade culinária que finalmente parece querer começar a instalar-se na capital.

És um ‘rapaz do cinema’. Fizeste parte da equipa de vários filmes portugueses e trabalhaste lado-a-lado com realizadores nacionais. Qual foi a produção que mais gozo te deu?

Cinema em vez de televisão, sem dúvida. Mas, em Portugal não podemos viver do cinema. Não pela falta de financiamento, mas também porque o nosso trabalho ainda é etiquetado como "hobby de meninos ricos". Uma das melhores experiências talvez tenha sido uma breve passagem pela produtora do filme "José e Pilar". Apesar do background que já trazia de Paris, apercebi-me das reais dificuldades que se encontram no nosso país para fazer um filme pessoal, intimista, honesto e que não quer pertencer ao sistema. Conheci nesta experiência pessoas fabulosas e aprendi a juntar trabalho e amizade.

Um dos teus projetos é promover o nosso país como local de rodagem para filmes internacionais. Lisboa tem sido um dos alvos, já tivemos uma série de filmes rodados aqui, alguns com histórias que têm a ver com a cidade. Achas que Lisboa ainda é fonte de boas personagens e boas histórias ou já estará tudo contado?

Está longe de estar tudo contado. Aliás, acho que ainda não se contou nada. Lisboa tem capacidades e um potencial fílmico interminável. É talvez a cidade mais ‘fotogénica’ da Europa. Só tenho pena que os seus governantes não lhe saibam por um cremezinho para ir tirando as rugas. Lisboa é como uma avó que precisa de ser mimada e cuidada, mas também uma jovem cheia de garra que precisa de ser valorizada. Estamos a destruir o nosso património sem investir no futuro dos nossos filhos.

O teu mais recente projeto é o PUFF. Fala-me do festival… e, já agora, porquê descentralizar, vivendo tu em Lisboa?

Haveria tanto para dizer... No estado atual em que Portugal se encontra é uma loucura iniciar um projeto como o PUFF. Mas foi uma força interior que me disse que este país precisa de acordar e de ser abanado... Descentralizar? Talvez porque fazer um festival de cinema em Lisboa é um desafio fácil de mais (risos). Fora de brincadeiras, Portugal, não é só Lisboa e Porto. É também Évora, Guimarães, Castelo Novo, Marvão, Gerês e muitos outros... Temos um país com um potencial enorme de fazer inveja a muitos outros países. Em vez de nos lamentarmos deveríamos aprender a promover-nos. Ao descentralizar, o objetivo é mostrar às equipas estrangeiras a variedade que temos para oferecer.

Ainda sobre o festival, sei que o PUFF te obrigou a um grande trabalho de pesquisa de filmes, muitos contactos, muitas horas de visionamento… e, com certeza, noites sem dormir…

Sim, efetivamente, tem sido um trabalho muito duro, noites em branco e dores de cabeça. Mas quando somos teimosos e persistentes nada nos demove dos nossos objetivos.

O que é que podemos esperar?

Uma lufada de ar fresco e uma sensação de liberdade "mental" no cinema e na cultura em Portugal...

E sobre os filmes que vão passar pelo festival… podemos pedir-te uma espécie de seleção pessoal? O que consideras imperdível?

Tendo sido eu a selecionar os filmes, não vou escolher nenhum em particular. Por isso a seleção pessoal é o festival todo! Todos os filmes estrangeiros são inéditos em Portugal e vieram de festivais como Sundance e Slamdance, Roterdão ou Raindance, Telluride ou Chicago Underground Film Festival. Filmes polémicos? Sim, claro, senão não seria "underground" e não seria um desafio editorial fazer um evento destes em Portugal...

Há uma pergunta que eu não posso deixar de te fazer. Como é que se faz um festival de cinema - com realizadores e filmes vindos de todo o mundo – sem dinheiro?

Como se faz? Acho que eu próprio ainda não sei... Mas, de uma forma ou de outra, todos nós pensamos um dia em fazer o impossível... Como as probabilidades de ganhar os Euromilhões são um pouco fracas, por que não fazer um festival de cinema em que todas as condições são adversas? Sem dinheiro, quase sem equipa, sem instalações, sem filmes comerciais... e, ainda com uma pitada de polémica. E, sobretudo, com duas coisas: muita força de vontade e a certeza de que os portugueses merecem ter a liberdade de escolha sem serem obrigados a "engolir sapos" ao verem televisão de e para massas e tudo aquilo que esta engloba... Talvez o "underground" seja isso tudo: uma alternativa.

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Links

Site oficial : http://p-u-f-f.com/
Facebook : https://www.facebook.com/portugalundergroundfilmfestival
Spot Official : http://www.youtube.com/ptundergroundff
Programação : http://p-u-f-f.com/pt/agenda/dia
Seleção Oficial : http://p-u-f-f.com/pt/edicao-2012/selecao-oficial

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