Le Entrevista a Antonio Campos por Rafa.El


Conversamos com Antonio Campos ao gosto do teclado de computador cavado entre dois oceanos. Ainda que nos soe lusitano em nome, este realizador de "Afterschool" e do recente "Simon Killer", é nascido em Nova Iorque com uma costela italiana e um costado brasileiro. Vem até Lisboa e Sintra por ocasião do Festival Córtex - o 3º Festival de Curtas Metragens de Sintra. Eis o que deu à língua com a Le Cool.

Quem é Antonio Campos? Que outras coisas gostarias de incluir na tua bio, que não aparecem nas descrições que circulam online (detalhes como aquele em que te candidataste à "New York Film Academy" dizendo que tinhas 16 anos, quando tinhas de facto 13)?

Quando eu tinha 10 ou 11 anos, os meus pais levaram-me a ver o "Johnny Stecchino", de Roberto Benigni. Gostei tanto que disse ao meu pai: «Não quero mais filmes de Hollywood! Só filmes estrangeiros e independentes!» Então íamos ao cinema "Angelika", no Soho.



Eu gostava realmente daquilo, porque tinha estes pequenos folhetos a cada semana, com uma descrição dos filmes, antecedentes e uma lista da equipa e dos atores. Isto foi antes do IMDB, portanto foi ali que comecei a aprender os nomes das pessoas que realmente faziam os filmes. Alguns meses depois, o filme de que toda a gente falava era o "The Crying Game", de Neil Jordan. O twist do filme era muito bem guardado.

Com a internet, é tão fácil encontrar spoilers. Mas antes era realmente misterioso e as pessoas guardavam segredo. Então o meu pai disse: «Este é o filme que devemos ver.» Então fomos; o cinema estava tão apinhado que tive que me sentar separado dos meus pais. Eu estava espremido entre dois casais mais velhos. Lembro-me de sentir: «Há algo errado com esta miúda.» Mas não sabia o quê. Por fim, no momento em que se revela que ela é um ele, toda a audiência suspirou, mas eu estava realmente excitado porque senti que sabia o que seria revelado. As pessoas mais velhas ao meu lado lançaram-me imediatamente um olhar.

Estava tão excitado, que saltei na minha cadeira e voltei-me para olhar para os meus pais que estavam algumas filas atrás de mim. Lembro-me deles a enterrarem-se nos assentos, embaraçados de ter levado o filho de dez anos a ver "The Crying Game". Eu estava feliz e isso não impediu de os levar a ver outros filmes desafiantes. Foi muito importante para mim vê-los. Penso que o facto da minha mãe me ter tapado os olhos durante a cena do "Gimp" no "Pulp Fiction", me ensinou a importância do som. Ainda que não tenha visto nada, o som provocou uma forte reação minha e apercebi-me do que poderia fazer sem mostrar, apenas ouvindo.

Viajas para Portugal para assistir ao Festival Córtex - um festival de curtas pequeno, mas que cresce consistentemente num país pequeno que está no meio de constantes atritos sociais e a persistência da "crise". Sentes que o cinema - e as curtas, por arrasto - tem uma palavra a dizer nestes momentos? É combativo - deve ser ativista - ou, como uma arte, deve manter-se como observação da vida e nunca interventiva em si mesma? Concordas com Godard quando diz: "O cinema não é uma arte que filme a vida: o cinema é algo entre a arte e a vida". Dirias que "Afterschool" contraria isso?

Penso que todos temos uma palavra a dizer nestes momentos, e se tiveres algo a dizer que caiba numa curta, di-lo. E se tens algo que sirva numa longa e consegues fazê-la, di-lo. Mas se precisas apenas de uma curta ou de 30 segundos no youtube para dizer o que precisas, não o estiques até um filme de duas horas. Acredito realmente que as coisas que precisam de ser vistas, são vistas, pode apenas levar mais algum tempo do que o esperado. Não considero que um filme, livro, peça de arte etc. possam alterar o mundo. Mas como realizador, podes realmente ser parte de eventos ou peças que certamente causem impacto.

Dirigiste a tua segunda longa metragem, mas também criaste algumas curtas. Achas que menos tempo danifica uma boa história ou as curtas metragens são verdadeiramente subvalorizadas?


Menos tempo para uma história que necessita de mais, danifica uma história. Mas se tiveres algo curto e delicioso, uma curta pode ser realmente poderosa. E a parte mais bonita quanto a uma curta metragem, é o facto de que, se não gostares dela, ou o resultado não for o que esperavas, não tens de a mostrar a ninguém.


Podemos contar com "Simon Killer" nos cinemas portugueses? Que dirias aos teus fãs portugueses como convite para o teu filme (ou para que comprem o DVD, naturalmente)?

Por favor, a todos que quiserem ver o "Simon Killer". Escrevam sobre ele online e no twitter e todas essas coisas. Eu adoraria que saísse em Portugal. Fiquei muito sensibilizado com o que fizeram para o DVD e para o lançamento em cinema do "Afterschool" e com a resposta dos espetadores. O melhor material de divulgação veio de Portugal, pelo que estou curioso com o que um distribuidor aí possa fazer com "Simon Killer".  

E quanto a Lisboa, é a tua primeira vez na cidade - o que pensas dela, o teu olhar captou alguma coisa (num aspeto cinematográfico)?

Parto hoje [para Lisboa], portanto digo-te este fim de semana.

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Festival Córtex : www.festivalcortex.com

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