Le Entrevista a Fernando Mondego por Francisco Pinheiro


A equipa Le Cooliana lisboeta mais parece um acordeão, em cada membro uma nota musical esticada ao seu limite como se de um intermezzo se tratasse. És parte desta partitura de forma esporádica, e segues a linha por detrás de um grande Homem? Há sempre outro, ou na verdade os originais são únicos e inimitáveis?

Sou homem de tez pálida, cútis bem tratada para a idade de pouco mais de três décadas que somo e com compleição que muitos dizem ser judaica e outros tantos francesa. A minha tia tinha toques de indiana, a minha mãe de cigana, o meu pai de africano e eu de europeu do centro e semita. Uma mistura boa como convém; sou então português, pois somos um povo vindo diretamente da liquificadora, bem aglomerados. Grande homem? Tenho 1,78, serve-me bem nos concertos, mas sinto-me baixo noutras ocasiões. 


Mondego de nome, coração e alma, ou só passageiro como as águas de um rio?

É porque Coimbra é cidade natal, mas não sou pseudónimo. Sou muito mais do que isso, mas isso daria outros capítulos por aqui.

Entre os affairs mais literários nos compromissos da capital, por onde andas nos tempos livres?

Trepo as colinas todas de Lisboa, com um cigarro de enrolar por bengala na boca e uma vontade de ter o mundo. Escrevo a tempos para a Le Cool e para outras andanças onde mexo com historiografia e olisipografia, assuntos que me estimulam em muito a mioleira.

Estava pr'aqui a pensar e de repente veio-me à cabeça que a sigla do teu nome é FM. És uma grafonola a falar, ou um rádio bem sintonizado a dar notícias?

Nunca tinha pensado nisso hoje - ontem sim. Uma casualidade que suponho não ter sido planeada por quem me deu nome... Por outro lado, talvez fosse previsto que, ao crescer, me fossem chamando de Nando. Esse sim, um verdadeiro feito de grafonola, literalmente.

Noutra Le Coolézima entrevista conjugamos o verbo 'Gouvarinhar', no plano físico e literário. E tu, gouvarinhas ou 'Maias'?

Não gouvarinho, nem nunca gouvarinhei, sou tremendamente fiel num campo que não chama aqui - o emocional. Gouvarinhar era para Carlos e para Ega o conforto sexual adúltero com a Gouvarinha. Pois.

Visto as ondas hertzianas estarem no reportório do dia, em vez de me descreveres Lisboa em prosa, declama-a na melodia cantada do poema.

Se bem que fala de um amor que se esvaiu, serve também para uma Lisboa que, decaindo, me preenche sempre enquanto lhe dobro as arestas. Sirvo-me de Cesariny:

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto    tão perto    tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Não é isto Lisboa também?

Sinto que por trás do Fernando se esconde mais que um grande homem. Esconde-se a alma viva da Le Cool em formato abrangente 16 por 9. Desmentes, confirmas ou inferes?

Partilho o primeiro nome com o Pessoa e é esse um dos meus maiores contentamentos. Quem lhe leu a Mensagem e lhe absorveu o Desassossego, vive mais completo os dias restantes. E não, não é nacionalismo, que esse já ascendeu a um patamar superior, ao da universalidade.

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