Le Entrevista a Sandro Araújo por El Rafa


A pergunta que se impõe de início - em conjunto com uma apresentação pessoal sumária - é: tens bicicleta, Sandro?

Sim, claro! Uso diariamente uma dobrável como principal meio de transporte, desde 2007. Comecei a andar de bicicleta de um dia para o outro, na altura trabalhava perto do Adamastor, foi facílimo e resolvi logo que a eterna promessa de voltar ao ginásio caíra por terra, pois já não precisava.

E uma provocação: é possível andar de bicicleta pela cidade das colinas? Eu, que tenho 3 bikes e vou para o trabalho de bike, sei ser possível mas, e não querendo ser evangelizador quanto às duas rodas, qual é a tua vivência com a bike em Lisboa e é Lisboa uma cidade bike friendly?



Costumo dizer que Lisboa tem de facto colinas, mas a maior parte delas estão na cabeça das pessoas. Amesterdão é mais chuvosa, São Francisco é mais inclinada, Milão tem mais carris. E em todas há mais ciclistas, e com estilo.Lisboa é uma cidade muito agradável para ciclar, embora admita que requer uma condução algo técnica para percorrê-la da forma mais eficiente. Quem domine a bicicleta no trânsito alfacinha, pedala sem dificuldade por Nova Iorque, Londres ou Paris. 

E quanto ao festival - o Bicycle Film Festival - edição Lisboa dum evento internacional. 12 anos dum festival que, mesmo tendo "Film" no nome, dá é ênfase à palavra que o antecede, a "Bicycle." Pois este é um Festival de Bicicletas. O que achas que tem contribuído o BFF na aceitação e adoção de novos hábitos de locomoção dos lisboetas? Há mais gente de bicicleta nas ruas, será apenas pela crise?

Parece-me evidente que, por onde tem passado, o BFF tem sido um elemento catalisador da cultura da bicicleta. Em Lisboa, em 2009 éramos meia dúzia de "loucos", e o Festival foi importante para congregar vontades, assumindo-se como uma plataforma de encontro e troca de experiências por quem partilha esta paixão pelas duas rodas.O público tem crescido, em especial desde 2010, e com caras novas. Quem ia à Massa Crítica no início tem essa sensação agridoce, de haver muitos novatos a experimentar e a perder-se progressivamente um certo ambiente familiar. Mas é um bom sinal! Há uma tendência nas grandes urbes para usar cada vez mais a bicicleta, por razões económicas, ambientais, de moda, mas também porque é uma agradável expressão de liberdade individual. 

Mesmo tendo um esqueleto de filmes que se enquadram na cultura da bicicleta, o BFF é um festival temático. Comenta-me os eventos paralelos como o torneio de bike polo (que tem tido um incremento exponencial por cá) e a Alleycat.

A bicicleta tem um "ecossistema" inerente, do qual fazem parte várias atividades lúdicas e desportivas, como o "bike polo", as "alleycats" ou os "bike sprints". O "November Sun" é o primeiro torneio internacional de "bike polo" realizado em Lisboa, e é fruto do intenso esforço de um grupo de entusiastas. Na sua vertente "hardcourt", e quando bem jogado, é um desporto viciante. Surgiu em finais do séc. XIX, na Irlanda, pela mão das classes trabalhadoras que não tinham capacidade para ter cavalos mas que queriam também bater umas tacadas. Atualmente é um desporto que almeja voltar às olimpíadas, tal como sucedeu em 1908, em Londres (na altura, ainda em campo relvado).Quanto à 4ª LX ALLEYCAT, é a maior do género realizada no nosso país. É uma corrida inspirada nos estafetas de bicicleta, uma prova de "ciclorientação urbana" aberta à participação de todos (e todas), e que este ano estamos a organizar em conjunto com a Matilha Cycle Crew. Vamos ter prémios aliciantes, e esperamos bater novamente o "record" de inscrições. 

E não existe transporte que seja mais respeitador para com a cidade do que a bicicleta: não polui, não engarrafa ruas, não obstrui, não entope estacionamentos. Não me parece que seja uma afirmação polémica, é óbvia. Qual achas que é o contributo do BFF para Lisboa e comenta-me o facto de parte do programa do festival, incluindo a street party de inauguração, se situar numa das zonas recentemente recuperadas para a cidade, o Largo do Intendente.

Uma das coisas que mais me fascina na bicicleta, é que é das poucas coisas na nossa sociedade que, quando o seu uso for mais generalizado, não só trará benefícios a múltiplos níveis (como os que indicas, e outros), mas beneficia mesmo os que não a usam. E praticamente sem efeitos secundários. O contributo do BFF é, acima de tudo, mostrar a vitalidade desta cultura global a pessoas que estão mais recetivas a sair da sua zona de conforto e encarar outra forma de viver a cidade, e proporcionar bons momentos a quem já pedala pela cidade.Quanto à street party, estamos a desafiar os lisboetas a reclamarem a rua (e o Largo) para si. Tragam a bicicleta, o skate, os patins ou a trotinete! Tragam boa disposição, que nós garantimos música, "mini-bikes", "tall-bike" e mais umas surpresas.Escolhemos o Largo do Intendente porque é uma zona da cidade que está a mudar para melhor, muito bonita e central. No meio do Largo, está agora uma escultura da Joana Vasconcelos que, vista de cima, tem a forma de uma "chave de bocas", muito usada em oficinas de bicicletas. 

Falta-me apenas uma coisa, antes de deixar o meu sincero agradecimento pelas palavras e um desejo de excelente festival. É que lances um pedido para que todos participem - lança um apelo a que assistam ao BFF12.

Vir ao BFF é uma experiência única, pelos filmes, atividades e pessoas.  Este ano, temos um leque excelente de obras inspiradas pela bicicleta, e nas variadas formas que esta tem de nos transportar, produzidas nos mais diversos contextos. Com ou sem chuva, aproveitem a programação, e se possível tragam a bicicleta. Temos estacionamento gratuito! 

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BFF 2012
www.bicyclefilmfestival.com/lisbon

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