Le Entrevista a Umesh Govinde por Daniela Catulo

Tem um dos sorrisos mais contagiantes da noite lisboeta. Natural de Moçambique, a sua energia transparece, e foi em Lisboa que firmou raízes e que provou ser um grande profissional na gestão de um dos bares mais interessantes e com o nome mais apelativo do Bairro Alto: O Kamasutra Bar. Começou como apanha-copos no Garage, cresceu num meio que é cheio de obstáculos e concorrência desleal, mas sempre com garra e persistência é à noite que ele pertence, como peixe na água.  

Observa uma Lisboa e um Bairro Alto diferentes daquele onde começou e gostava que o público optasse mais pela qualidade, mesmo em tempos de crise. Porque o que é realmente bom e especial, nem sempre tem que ser mais caro.

As gerações mais novas, que começam agora a sair à noite, não conhecem o brilho que tantos dizem que se perdeu na noite em Lisboa. Quais achas que foram as grandes mudanças da Lisboa em que começaste a trabalhar e a Lisboa de agora?

Muitas mudanças, principalmente no público que frequenta a noite, público muito jovem, que na sua


maioria não sabe estar, beber e conviver à noite, procuram o mais barato, não se preocupam com o que bebem. Saem como se fossem beber um café no café da rua, não se preocupam com a imagem, com aquele glamour ligado à noite, algo a que dou muita importância. 

Em relação às casas existentes em Lisboa, os grandes empresário da noite não deram continuidade ao que tínhamos, casas com boa música, cada uma com um estilo e ambiente diferente. O público jovem sem cultura musical está em todo lado, querem música comercial. As melhores casas fecharam: Alcântara-mar ( a original), Kapital, Kremlin, os afters. E as que estão abertas estão sujeitas às festinhas das universidades, dos RP e outras em que a música e o ambiente não me agradam.

O que gostavas que mudasse para que fosse mais aliciante sair a noite?

Mudar a lei da idade mínima para consumo de álcool, as grandes casas definirem um estilo e ambiente próprio, nada de música comercial, apostar nos DJ da velha guarda, DJ internacionais para clubs e discotecas, não pra os grandes eventos, mais clubs muito para mudar ainda.

Fala-nos das maiores dificuldades em gerir um bar em Portugal.

Neste momento, além da crise, uma concorrência desleal enorme, entre bares de vão de escada, bares que abrem sem licenças, lojas de conveniência, as burocracias, impostos para tudo, os horários. uma série de entraves a dificultar o negócio.

Qual é a magia do Bairro Alto?

Tudo começa no final do dia início da noite, local para jantar, selecionar um restaurante acolhedor, boa comida, típica ou internacional, ponto de encontro num dos 50 ou mais bares do bairro (o Kamasutra é um bom ponto de encontro ) – risos - mais tarde é que começa a verdadeira magia, a música começa-se a ouvir, pessoas a entrar e a sair dos bares, na rua as conversas fluem, encontram-se amigos de longa data, pobres ou ricos, estão todos lá, dentro e fora dos bares, sangrias, cocktails, shots, cervejas, todos com um copo na mão, milhares de pessoas num sítio mágico e único: o Bairro Alto.

Qual a tua opinião sobre as novas gerações de DJ?

A nova geração de DJ não me agrada muito, sem o botão SYNC não são nada…

Porque é que o Kamasutra é um espaço incontornável para ir beber um copo?

Um espaço acolhedor, onde se pode estar uma noite inteira a conversar e a ouvir boa música e ao fim de semana é para dançar: o ambiente, os clientes/amigos, a qualidade das bebidas, a música, o staff, a forma como recebemos as pessoas. Tudo isto faz com que o Kamasutra seja um espaço único no Bairro.

Se não fosse em Lisboa, seria...

Neste momento, da maneira como o país está, o Kamasutra seria em Angola.

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Kamasutra Bar, Travessa da Espera 22A, Bairro Alto

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