Le Entrevista a Naoko Tanaka por Rafa [PT]

Ao visitar Lisboa para a apresentação de «Die Scheinwerferin» (De 23 a 25 Maio no Espaço Alkantara, incluído no FIMFA Lx13), Naoko Tanaka dá-nos algumas palavras. 
 
Dança, coreografia, instalações, performances, som, iluminação e imagem. Vês-te como uma artista completa, a perfeita manifestação da ideia da arte total ou, dizendo de outra forma, como uma «mulher do Renascimento»? 
 
Tento seguir e servir ideias artísticas o mais estritamente possível. O formato em que se manifestam (de que forma é que se apresentam como trabalhos de arte) depende de cada ideia e pensamento. 

Por vezes tomam forma como soundscape, umas quaisquer imagens, uma construção ou situação com figuras ou então apenas um gesto... A forma aparece  em conjunto com a materialização de uma determinada ideia. Não há um formato inicial a que eu responda.
 
Penso que esta forma de trabalhar faz o meu trabalho ser completo. E eu normalmente trabalho sozinha, faço tudo eu mesma, concretizar/visualizar as ideias... porque não quero qualquer espécie de compromisso ao dar-lhes forma. Claro que com esta forma de trabalhar, tenho consciência de que há um limite que posso atingir com a minha capacidade. Expressões como «mulher do Renascimento» são definitivamente excessivas... Mas, de alguma maneira, esta é uma interessante descrição, porque as minhas ferramentas são bastante comuns, quase unicamente coisas elementares... não há nada «novo», nada avançado tecnicamente, de veículo ou de estilo. 

Mas talvez a forma como estes elementos comuns são encontrados (de maneira muito simples e ao mesmo tempo complexa), eu recrie possibilidades de linguagens artísticas.
 
O espectáculo que ofereces a Lisboa, o multipremiado «Die Scheinwerferin», mostra manipulação e também shadow play. Como começaste a usar shadow play nos teus espectáculos e qual é a «força» ou «poder» que penas que entrega à audiência? 

Desde a minha infância que fiquei fascinada pelo fenómeno pótico criado pela luz e pela sombra. É um incrível fenómeno, caracterizado pela existência na fronteira entre o material e o imaterial. Podemos vê-lo e reconhecê-lo, mas o podemos descrever/capturá-lo. E é apenas efémero. 
 
Através de muitas experiências (e também de brincar) com ele, descobri-lhes um enorme potencial, o de tornar coisas invisíveis em visíveis. «Die Scheinwerferin» é o primeiro trabalho de uma trilogia, na qual me foco exclusivamente na «sombra» como uma entidade no sentido metafórico. 

A peça funde a fronteira entre o material e o imaterial, o físico e o incorpóreo. O mundo interior é exteriorizado, o distante torna-se próximo, o rápido, lento. O silencioso ouve-se alto e o invisível revela-se. 

As sombras alertam-nos quanto ao nosso potencial de ver para além do mundo. 

Qual é a tua principal motivação ao usar marionetas, será que eles são artisticamente mais abrangentes que outras formas de arte, por exemplo, o uso do corpo humano? No entanto, quando se manipula uma marioneta, o artista e o seu corpo também tomam parte da apresentação...
 
É puramente a nossa imaginação se vemos que uma manioneta tem emoções. Porque temos emoções e sabemos como são, como é viver como um ser vivo. Eu estou interessada em vitalidade, animação (liveliness) e a vitalidade não depende do corpo humano ou de qualquer criatura viva. 
As imagens vivas que se podem ver nos meus espectáculos, não são da minha criação, são a tua própria imaginação. No momento final, as imagens criadas no interior de cada espectador são aquilo que conta. E eu quero partilhar esse momento de descoberta com o meu espectador.

Foto de Trevor Good
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Naoko Tanaka : www.naokotanaka.de

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