Le Entrevista a Dito Von Tease por La Cucarafa [PT]

Quem é, de facto, o Dito? 

Por detrás do dedo, há um director de arte, um ilustrador e um designer. Sou do Centro de Itália. Actualmente trabalho e vivo em Bolonha, uma cidade lindíssima conhecida como «a vermelha, a gorda e a conhecedora» («la rossa, la grassa e la dotta»), tão famosa por ser pintada de vermelho e posicionada à esquerda, pela boa comida e pelas artes e cultura.

Penso que foi ao crescer num ambiente cheio de beleza artística, de comer boa comida e estar rodeado de uma amigável sociedade italiana, que se criou a atmosfera certa para desenvolver a minha criatividade. Se bem que, às vezes, tenho a tentação de mudar do indicador para o dedo médio e fugir para o estrangeiro.

O que te fez começar este projecto? Tem algo a ver com algum «fetish» por dedos?

Comecei o projecto Ditology em 2009, quando decidi criar a minha conta de Facebook. Queria que se tornasse um espaço virtual, livre de familiares opressivos, de colegas e de não-muito-amigos. Então decidi criar um avatar.

Em italiano, podia dizer-se que eu queria «esconder-me por detrás de um dedo» («nascondermi dietro un dito»), que é uma metáfora para um esconderijo não muito eficaz. O desejo de me esconder da vida real, fez-me pensar sobre a minha identidade e a de outras pessoas... e por isso usei a imagem de um dedo para sugerir que todos nos escondemos por detrás de uma imagem que construímos de nós próprios.

E isso é o meu dedo: a representação das máscaras que todos usam ao brincar à vida, provavelmente para preservar a frágil individualidade da nossa impressão digital.

Os dedos que usas, também podem ser dos pés?

(Risos) Claro, porque não? Posso tentar... talvez para alguma celebridade não muita alta. Podia tentar criar um novo dedo-retrato do pior italiano de sempre, Silvio Berlusconi...

Que personagens te deram mais prazer a criar? 

Definitivamente, Mr. Spock! Adoro-o. Foi como um tributo. Um dedo-tributo.


E quanto à tua recriação do Fernando Pessoa, o que te fez escolhê-lo?

Escolhi Fernando Pessoa, porque penso que ele representa uma parte da cultura portuguesa e lisboeta e Lisboa é a minha capital europeia favorita. Tenho realmente saudade de Lisboa. Ao criá-lo, lembrei-me de imensas coisas sobre a minha viagem a Lisboa...

Como é que as pessoas reagem às tuas dedo-criações? 

Alguns riem-se, outros encontram o conceito por detrás do Ditology, mas ninguém pode ignorá-lo. O projecto Ditology convida todos a olhar para lá das «máscaras» que usamos ao brincar às nossas vidas e ir mais profundamente procurar a nossa impressão digital única... tal como a polícia sabe!


O conceito é, basicamente, que a nossa identidade é o resultado de uma complexa combinação de verdade e ficção, individual e social, natural e cultural e, actualmente, componentes virtuais e reais.

Na era digital (e digitus é dedo em Latim), o dedo é a ferramente que usamos nos ecrãs tácteis, nos ratos e no teclado. Assim, toda a gente está escondida por «detrás do seu dedo», enquanto surfa na Internet e, especialmente, nas redes sociais. Muitas vezes, ou pelo menos às vezes, escondemo-nos na nossa identidade digital, sentimo-nos livres para expressar ideias, opiniões, sensações e sonhos que não expressamos (não poderíamos?) claramente na vida real.

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Ligações: 
https://www.facebook.com/pages/Dito-Von-Tease/191180957568516

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* Originalmente publicada a 18 de Julho de 2013, na Le Cool Lisboa * 401

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