«QUANDO OS LOBOS UIVAM» (Mostra de Jazz-Off) por Pedro Tavares

Domingo, 23 Junho de 2013
Curadoria : Francisco Trindade / Direcção de Produção: Miguel Sá 
Um evento Fata Morgana 

Texto : Pedro Tavares
Fotos : Nuno Martins

No âmbito do centenário da Livraria Sá da Costa, situada em pleno coração do Chiado, realizou-se a 22 e 23 de Junho (sábado e domingo) a Mostra de Jazz-Off. Este evento integrou cerca de 30 músicos divididos por 8 projectos de diferentes estéticas do movimento artístico intitulado «Quando os Lobos Uivam».
 
CUNNILINGUS VERSUS FELLATIO

As honras de abertura da segunda noite do Jazz-Off ficaram a cargo de um quinteto  inédito, composto por quatro saxofones (tenor, soprano, barítono e alto) e um trombone. Era uma das actuações mais aguardadas, dada a especificidade instrumental.

Faltou intensidade no diálogo, tendo o grupo optado por uma lógica de contenção. Ainda assim, destaque para Matthieu Ehrlacher, no saxofone barítono, que tentou romper com a tónica dominante e impor mais liberdade na forma de tocar. Diogo Picão, no tenor, e Fernando Simões, no trombone, tiveram um ou outro rasgo de criatividade com algum interesse. Foi uma actuação que ficou aquém das expectativas!

VIMARANIS ENSEMBLE

O segundo concerto, e diga-se de passagem o melhor da noite, teve como intervenientes Manuel Guimarães (guitarra), Maria Radich (voz), Gil Dionísio (violino e voz) e Tiago Varela (acordeão). 

O rumo, se é que se pode falar de um rumo num projecto como este, foi conduzido inicialmente por Maria Radich que, como já vem sendo habitual, enriqueceu toda a actuação com a sua voz. Com o desenrolar do tempo, apareceu outra voz, a de Gil Dionísio, que estabeleceu com Radich uns diálogos verdadeiramente interessantes, acompanhados pelo seu violino. O acordeão de Tiago Varela testemunhou toda a actuação como pano de fundo, a recordar um belo tango, enquanto Manuel Guimarães colocava umas pinceladas intensas no confronto das vozes.

Em suma, tratou-se de uma performance equilibrada, forte e convicente, onde Gil Dionísio esteve de facto magistral!

LE VICE ANGLAIS

A terceira proposta da noite coube ao duo Bruno Parrinha (saxofone alto) e Ricardo Pires (guitarra eléctrica). Os músicos arrancaram com um diálogo intenso entre o saxofone e a guitarra eléctrica que, como o próprio nome indicava, prometia viciar a plateia. 

No entanto, aquele registo durou apenas alguns instantes. Um desentendimento no «gigante» jogo de pedais do Ricardo Pires deitou por terra um momento de jazz que reunia todos os ingredientes para ser único. Irremediavelmente, os acontecimentos que ditaram o fim prematuro do primeiro set acabaram por condicionar a restante actuação. Faltou coesão e entendimento na segunda metade. No entanto, não passou despercebido o saxofonista Bruno Parrinha, que mostrou por que é considerado um dos melhores improvisadores da cena jazz/improv nacional. Merecia mais… 

DRAMA

A encerrar a mostra, André Gonçalves, Carlos Santos, Miguel Sá, Rui Miguel, em electrónicas, e Luís Lopes em baixo eléctrico, fecharam em grande esta edição Jazz-Off. Se no início revelaram alguma prudência na escolha dos sons, com o tempo o discurso colectivo foi ganhando corpo e ficando mais complexo. 

A inclusão de Luís Lopes revelou-se uma mais-valia, conferindo mais profundidade ao grupo. O guitarrista explorou de uma forma muito interessante a sua guitarra, extraindo sons que mais pareciam vir da electrónica e mostrando, desta forma, uma especial sensibilidade e um grande à-vontade nestas andanças. No global, a performance primou pelo equilíbrio e pela sobriedade.

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* Originalmente publicada a 14 de Julho de 2013, na Le Cool Lisboa * 400

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